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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Os filhos do país dos escândalos

Por Eliane Lobato - IstoÉ de 03/08/2005

Eram 19h50 da terça-feira 26, quando o senador Delcídio Amaral (PT-MS) anunciou: “Chegamos no limite.” Ele interrompeu a sessão da CPI dos Correios que durante nove horas ouvira Renilda de Souza – mulher do publicitário Marcos Valério. Havia três parlamentares inscritos para perguntar. Mas os limites de Renilda se extinguiam na proporção que sua vida particular se devassava diante da fúria dos inquisidores. Interrogações sobre seus sentimentos mais íntimos borbulhavam num espetáculo intimidatório que Kafka certamente adoraria descrever. Numa das cenas mais constrangedoras da CPI, o deputado Julio Redecker (PSDB-RS) pisoteou. “Sua mãe deve estar sofrendo muito e rezando pela senhora.” “Não, não está. Ela tem mal de Alzheimer”, respondeu Renilda. “A senhora usou dinheiro que deveria ser da população. Como tem coragem de olhar na cara dos próprios filhos?”, chutou Redecker, levando a depoente a um choro profundo. Nessa mistura, às vezes sórdida de público e privado, o próprio Marcos Valério, ao listar suas empresas para a CPI, lembrou, aos prantos, que uma delas, a JVN – que não chegou a ser aberta –, tinha as iniciais dos três filhos, inclusive de um que morreu de câncer aos seis anos.

Em tempos de escândalos, produção de dossiês em escala, CPIs se atropelando e reputações jogadas no mar de lama nacional, as casas de muitos brasileiros viraram cenários de dramas que não podem ser dimensionados por extratos bancários e de imagens tristes que não são captadas pelas câmeras de tevê. Por trás da lavagem de roupa suja na CPI dos Correios e de tantas outras investigações – CPI do PC, Escândalo dos Precatórios, Orçamento, das Bicicletas, Frangogate, Máfia do Sangue –, famílias têm sido dilaceradas. Denunciantes e denunciados compartilham aquele que talvez seja o preço mais caro cobrado pela faxina ética do País: filhos e filhas crescendo sob a marca da vergonha, do medo e até do abandono. Caso de Paulinho, hoje com 22 anos, e Ingrid, 24, filhos do ex-tesoureiro de Collor, PC Farias (assassinado em 1996), que desceram ao fundo do poço. Ou Ana Sophia, a caçula do ex-ministro da Saúde Alceni Guerra, vítima de uma professora maquiavélica. Ou ainda Christian, nove anos, neto do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), barrado no colégio por colegas que queriam cobrar dele uma versão escolar do mensalão. Filha do ex-presidente nacional do PT José Genoino, Miruna, 23 anos, escreveu para o pai uma carta-desabafo. São filhos do País dos escândalos que guardam seqüelas pelo resto de seus dias.

Normalmente, esses dramas familiares não são visíveis. Outras vezes são jogados na arena. ISTOÉ ouviu nas últimas semanas depoimentos de quem constitui a parte mais vulnerável desse mundo político-policial.

Pivô do escândalo dos Correios e da denúncia do mensalão – a mesada que seria paga a parlamentares pela direção do PT –, o deputado Roberto Jefferson não se furta a repetir – em conversas informais – os estragos que sua conturbada trajetória política vem causando à sua família. Quando era líder da tropa de choque de Collor, seu filho Robertinho, na época com 14 anos, recebeu “uma coça” e teve a mandíbula quebrada. Agora, na CPI dos Correios, outra fratura familiar, dessa vez com o neto. Primogênito de Cristiana Brasil, vereadora carioca e filha de Jefferson, Christian, nove anos, foi barrado no corredor do colégio Cruzeiro, no Rio de Janeiro, onde estuda, por alunos que deram a seguinte ordem: “Só passa aqui se pagar mensalão.” A agressão foi comunicada à direção da escola, que deu apoio ao garoto. “Isso não aconteceu uma vez, foram várias. E por mais que ele tenha o nosso apoio, o da terapia e o do colégio, ninguém pode impedir o sofrimento dele”, diz a mãe, também alvo de preconceito. “Na academia de ginástica, eu deixei de ser Cristiana e passei a ser a filha de Roberto Jefferson. ‘Amigos’ passaram a evitar nossa família, a desmarcar encontros, a não atender telefone”, conta.

Para o pediatra Leonardo Posternak, presidente do Instituto da Família, em São Paulo, filhos podem colocar “em xeque a figura idealizada de seus pais” ao vê-los envolvidos em escândalos. “Descobrem que o pai não é um super-herói.” Segundo Posternak, é difícil para a criança entender por que alguém vai deixar de brincar com ela por algo “que seu pai fez”. Mas, conselho de especialista: deve-se contar o que acontece, em vez de isolá-la “numa bolha de plástico”. O psicanalista Alberto Goldim enxerga no sentimento dos filhos uma metáfora equivalente ao sentimento de confusão e tristeza que invade a Nação. “Um líder, um presidente, é como um pai para a população. Quando a confiança é destruída, o sofrimento é parecido com o de filhos que perdem a referência paterna”, explica Goldim. Não é à toa que o País discute com passionalidade incomum se Luiz Inácio Lula da Silva sabia ou não da lama que chegou à sua ante-sala. Dentro de casa, Lula tem seus dilemas. O “pai” do País é também pai do biólogo Fábio Luís, 28 anos, que teve questionados os negócios de sua empresa, a produtora Gamecorp, com a Telemar.

Recortes de jornais – Hoje fora dos holofotes e com seus dramas esquecidos, Alceni Guerra viu dois filhos, crianças na época em que era ministro da Saúde do governo Collor e acusado de superfaturamento na compra de bicicletas, serem covardemente envolvidos no episódio. Ele teve sua inocência comprovada, porém as cicatrizes já sangravam. “Na festa do Dia dos Pais, Ana Sophia, então com cinco anos, preparou um presente para o pai, orientada por uma professora: um cartaz com recortes de jornais estampando acusações de corrupção contra mim. Vi minha filha desfilar com aquela coisa acintosa diante de um colégio lotado, com um sorriso de orelha a orelha, sem ter a mínima idéia do que estava fazendo. Receber um abraço no Dia dos Pais de minha filha com um cartaz me chamando de corrupto foi a pior coisa que sofri”, relata Guerra no livro A era do escândalo, de Mário Rosa. Já Guilherme, então com 12 anos, foi capa de jornais em foto que mostrava pai e filho sentados no meio-fio, ao lado das bicicletas que usavam num passeio no Parque da Cidade, em Brasília.

O trauma acompanhou Guilherme por muitos anos. O mesmo aconteceu com Victor Camargo Pitta do Nascimento, filho do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, pivô do escândalo dos precatórios. Aos 25 anos, sua família desmoronou quando a mãe, Nicéa, contou o que sabia a respeito do governo Paulo Maluf. Victor e Pitta se agrediam via imprensa e romperam. Recentemente, o filho resolveu procurar o pai. “Sofremos muito. Agora começamos a nos falar de novo. Eu tomei a iniciativa porque acho que o ofendi e que ele merece uma segunda chance.” Ver o pai ser destruído causou uma erosão interna no jovem, que parou de trabalhar e de estudar, e caiu em depressão. A irmã, Roberta, também não agüentou. Ela estudava direito na Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo e viu o episódio frangogate (superfaturamento na compra de frangos no governo de Paulo Maluf, do qual Pitta era secretário de Finanças) ser levado para uma aula. “A sala inteira olhava para ela. Roberta trancou a matrícula e se mudou do Brasil”, relembra Nicéa. Para evitar que sua filha Naína, oito anos, sofra traumas, a ex-secretária e testemunha Fernanda Karina Somaggio – que tem repetido que sua motivação é ajudar a criar “um Brasil melhor” – adota estratégias para protegê-la, como restringir seu contato com pessoas estranhas e manter distância das ruas, que causam certa solidão. Karina deve, portanto, pensar bem antes de aceitar o convite de uma revista masculina para posar nua, como têm comentado.

“Devolve meu sangue!” – Um exemplo bem-sucedido de filho que conseguiu sobreviver à fúria das denúncias é a modelo Ellen Jabour, namorada do ator Rodrigo Santoro. Seu pai, o empresário Jaisler Jabour de Alvarenga, foi acusado, no ano passado, de integrar a Máfia do Sangue, nome dado a fraudadores de medicamentos no Ministério da Saúde. Ellen só perdeu a fleuma uma vez. Segundo nota da coluna de Ancelmo Gois, em O Globo, ela estava num camarim do São Paulo Fashion Week quando alguém gritou: “Devolve meu sangue!” A modelo retribuiu o desaforo e encerrou o caso.

Nem sempre, entretanto, o saldo é negativo. Filho de Eriberto, o motorista que desmontou o esquema PC Farias e foi peça-chave no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, André Vinícius colheu bem mais elogios do que hostilidades. Na época, ele tinha cinco anos e não entendia o que acontecia. Sofria, apenas, porque os pais o levavam para dormir com os avós, por precaução. “Eu não gostava da noite porque me separava deles. Era triste”, relembra. Com o tempo, ele passou a ser cumprimentado pela atitude heróica do pai. “Tenho orgulho. Ele foi corajoso. Mexeu com gente importante e era a parte mais fraca. Normalmente, as pessoas falam dele de forma respeitosa.

Exceto um ‘seu pai é dedo-duro!’, dito de brincadeira, o resto é elogio.” Para Eriberto, o sofrimento da família foi grande, mas valeu a pena. “Recebi ameaças por telefone, tivemos proteção da Polícia Federal, mas a gente tentava passar certa normalidade para os filhos. Íamos para a pracinha e fazíamos de conta que não estava acontecendo nada”, relembra.

Do outro lado do mesmo caso, o saldo não é nada alegre para os descendentes de PC Farias. Paulinho, hoje com 22 anos, e Ingrid, 24, não levam a vida como outros jovens. Ela pouco sai e vive deprimida, segundo relatos de poucos amigos. Paulinho não dá um passo sem seguranças, mais de uma década depois dos escândalos. Como disse o ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro, “quem escolhe o caminho da política sabe que está na chuva e se molhar é contingência. Mas e os que não foram à chuva e se molham também?” Apesar de inocente, Pinheiro foi cassado após acusação de envolvimento com a Máfia do Orçamento e teve sua história passada a limpo recentemente, mais de uma década depois. Com a autoridade de quem comeu o pão que o diabo amassou injustamente, ele diz que o mínimo que se pode fazer para tentar poupar a família, “a parte que mais sofre”, em momentos como os atuais é ter “comedimento”. Fica o conselho. Ficam as marcas.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Juliette Binoche na Playboy francesa

* A Playboy francesa de novembro não traz uma coelhinha qualquer na capa. A atriz Julliete Binoche, 43, é o destaque. Ela posou para a fotógrafa Marianne Rosenstiehl.







terça-feira, 30 de outubro de 2007

In Search of Stolen Saints

* Matéria sobre o roubo de obras de arte sacras publicada na Times em 25 de outubro de 2007. Assina Andrew Downie.

The São Bento Church is remarkably tranquil for building wedged between Rio's bustling (barulhento) downtown and one of the city's major highways. So tranquil, in fact, that nobody even noticed, recently, when thieves (ladrões) walked into the Baptism Chapel one afternoon, sawed (retiraram) a priceless wooden sculpture off the wall, and waltzed off (saíram) with it.

The piece, a six-inch statue of an icon named Faith, once formed part of the ornate gold-leaf side altars that date from 1690, shortly after work on the church began. "It was priceless," says Dom Paulo Azeredo Coutinho, one of the 45 monks (monges) who live and work in the famous building and monastery. "It was a one-off (peça única)."

The same, unfortunately, cannot be said for its theft (roubo). Although no complete figures (números) are available, police and cultural officials report a large increase in recent years in the pilfering (furtos) of Brazil's religious artifacts and objets d'art. The booty (saque/pilhagem) includes wood and terracotta sculptures, gold and silver candlesticks, thuribles (incensório) and communion silver (pratas de comunhão) — even rare books, maps and engravings (gravuras).

"This year in Rio we have seen five cases of theft (roubo) — four sculptures and one candelabra," said Marcos Monteiro, director general of Inepac, the Rio institute that oversees the state's cultural heritage. "It is getting worse as the market heats up and demands more pieces. There is a market for religious art and it has been growing since the 1940s. Now it is the hot trend."

Monteiro tracks the beginning of the trend to the late 1960s, soon after the Vatican II meeting in Colombia declared the church should focus more on Christ and less on saints and other icons. That ruling led many priests to remove beautiful sculptures of the Virgin Mary and other saints from display. Some were sold, often to raise money for a parish (paróquia), and a whole new market was created.

Brazil is a particularly rich source of religious art, because during the 17th and 18th centuries it was the only art form encouraged by the country's devoutly Catholic rulers. In the states of Bahia and Pernambuco in the northeast, and Minas Gerais and Rio de Janeiro in the south, Portuguese settlers built baroque churches dripping with gold, silver and art. But today, much of that art is gone. "The last time I checked, we had registered 188 works of art stolen — that's since 2000," says Vanessa de Souza, a Brazilian police chief and delegate to Interpol. "We think there are a lot more that haven't been reported to us. Sometimes we see reports of thefts in the newspaper and we haven't been told officially."

Souza says some of the robberies are the work of gangs who traffic the pieces to Europe and beyond. Most, though, are done by small-time crooks (trapaceiros/pessoa desonesta) who fence (repassa) their swag (objetos roubados) to local antique dealers, who then sell them on to private collectors.

Officials believe, however, that many antique dealers have no idea they are trafficking in stolen goods, because there are hundreds of icons legitimately on the market, having been sold legally by churches or private chapels or imported from dealers abroad. In a bid (tentativa) to track (rastrear) the illicit trade, Brazil's legislature recently passed a law obliging all antique dealers to register with authorities by December. It'll take more than that, however, to trace the stolen goods, says Monteiro.

"What we need is a national system to catalogue the country's religious art," he said. "That way, if something is stolen in Rio then it can't be resold in Pernambuco or São Paulo, and if something is stolen in Pernambuco or São Paulo, then it can't be resold here."

The São Bento church has taken its own precautions, hiring seven security guards to patrol the church and grounds, as well as fitting 15 CCTV cameras in and around the premises. These steps have made the monks who wander about in flowing dark brown robes feel safer, and Coutinho is confident it also offers protection to the priceless pieces that hang from every wall and ceiling of the spectacular 300-year-old building.

And Coutinho has a new idea to bolster (apoiar) the deterrent effect (efeito intimidante) of his security measures. Looking up at a little camera discreetly hanging from a whitewashed wall, a mischievous smiles flickers across the face of the serene former architect. "You can't see those cameras," he says. "We should put up a sign saying, 'Smile, You're Being Filmed.' Or even better, 'Smile, God is Watching.'"

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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

"La literatura no tiene ninguna función"

* O escritor português José Saramago em entrevista exclusiva à repórter Patricia Kolesnicov (pkolesnicov@clarin.com), do Clarín. Texto publicado na Revista N, em 20 de outubro de 2007.

Desde su refugio en la isla de Lanzarote, muy cerca de una serie de homenajes por sus 85 años y los 25 de su "Memorial del convento", el Premio Nobel portugués respondió, parco, incisivo, a las preguntas de "Ñ" sobre la actualidad y el futuro de la literatura. Jurado del Premio Clarín de Novela, dice que la narrativa no debe escuchar al mercado, que preguntarse sobre la utilidad de la ficción es no entender nada y que esa pregunta sin respuesta se repetirá eternamente: tendrá siempre nuevos "preguntadores".

«Chora, ahora mismo, ahora, ahora, mientras esto se escribe, mientras esta nota está por empezar a ser leída, allá en una isla volcánica, allá en su escritorio de caballetes, allá con su vista africana a un océano Atlántico intenso como un cielo sin luna, el Premio Nobel de Literatura, el escritor comprometido, el tipo serio que es José Saramago, escribe su próxima novela.

Sabemos su título: Se llamará El viaje del Elefante. Sabemos que sobre esa tabla que tiene por escritorio, ordenadas, prolijitas a un lado de su impresora, ya hay unas 50 páginas. Sabemos que la novela está basada en un hecho real, ocurrido en la época de Maximiliano de Austria, que nació en Viena, fue nombrado emperador de México en 1864 y fue fusilado en 1867. Sabemos también que la novela en la que está inmerso Saramago ahora, ahora mismo, está llena de ironía, de sarcasmo y de compasión. Que es una metáfora, dicen buenas fuentes, sobre los pobres diablos que somos los seres humanos. Sabemos que postulará, el autor del conmovedor Ensayo sobre la ceguera, que el destino que nos damos los humanos es estúpido, cuando podríamos alcanzar algo más que el ridículo. Que dirá que es ridículo o patético que nos pasemos la vida corriendo, trabajando, criando hijos, para acabar pobres, además de viejos y de olvidados. No habla de la vejez, nadie se atreva a hacer interpretaciones al vuelo y creer que porque está a punto de cumplir los 85 -el 16 de noviembre- José Saramago escribe sobre la vejez.

El tema de la novela que viene, desliza nuestra buena fuente, es la carrera hacia la nada que, según el punto de vista del escritor, parece llevar la humanidad. Una novela de ideas. Como lo fue Memorial del convento, la gran obra que está cumpliendo los 25 años y que lo tendrá de festejo en festejo en España y en Portugal, a mediados de noviembre. Festejo que reúne la alegría de los 85 del autor, 300 del Convento de Mafra, 350 de Doménico Scarlatti, el músico que es personaje de la novela. A lo grande: habrá un espectáculo que ya se hizo en Finlandia, con música de Scarlatti en la voz de una soprano, algunos pasos de ballet y palabras del Memorial... que dialogarán con un clavicordio. Y luego hablará Saramago. En España la producción tendrá como actor a Juan Echanove. En Portugal, a Jorge Vaz Carvalho. Los demás, finlandeses. Y con eso empezará su trabajo en Lisboa la flamante Fundación José Saramago. ¿Es todo? Para nada: el 17 de noviembre el escritor estará en Mafra, Portugal, para las celebraciones del convento. Y así: una mirada a su agenda de compromisos puede producir taquicardia.

No es fácil darse cuenta cómo lleva ese ritmo el Premio Nobel y además de escribir novelas tiene tiempo para enterarse y ocuparse de lo que considera injusto en el mundo, de asistir a Ferias del Libro, de volver a casarse con su mujer, Pilar del Río -lo hicieron en junio en Castril, el pueblo granadino donde ella nació-, de colaborar con la cineasta chilena Carmen Castillo para el documental Calle Santa Fe, sobre la resistencia en su país. De ir a Guadalajara, México, a leer partes de su novela Las intermitencias de la muerte -lo hizo en diciembre pasado- sobre un escenario, junto a un deslumbrado Gael García Bernal, en un duelo de galanes en el que no estuvo claro quién ganó.

Desde esa ventana al mar, desde Lanzarote, la isla donde vive, que es políticamente España y geográficamente Africa, a pocos días de subir al avión que lo traerá a Buenos Aires como miembro del jurado del Premio Clarín, Saramago responde las preguntas de Ñ sobre qué lo lleva a escribir, sobre la lectura hoy y sobre la literatura que vendrá. No es fácil entrevistarlo, quien lo haga debe saber que es probable quede ligeramente en ridículo. Porque como siempre, Saramago es sencillo, contundente y conmovedor.

-Después del premio Nobel, de tanto reconocimiento... ¿Qué lo mueve a seguir escribiendo? ¿Qué lo hace sentarse frente a la computadora?

-El hecho de haber dejado una página por terminar.

-¿Sigue buscando algo en la literatura? ¿Qué busca?

-Como cualquier otro lector, o escritor, me busco a mí mismo. Busco encontrarme en páginas, en ideas, en reflexiones, reconocer que somos algo más que esto que se presenta como "realidad", ése sigue siendo el mayor deslumbramiento.

¿Sí? ¿Seguimos los humanos encontrándonos en páginas, que no sean páginas web? Saramago hace rato que escribe sus textos en computadora y está lejos el día en que Pilar rescató de la papelera (la real, no la de Windows) la primera página de la última novela que su marido escribió a máquina y corrigió a mano, "Historia del cerco de Lisboa". La sacó del tacho, la alisó (era un bollito como los de las películas), le pidió una dedicatoria. Dice: "'A Pilar, esta página y mi vida'. José. 29 de diciembre del 87". La página fue enmarcada y colgada de la pared. Buen recuerdo, testimonio asegurado y a otra cosa, la escritura se volvió digital. En resumen: El Nobel no está paranoico con el papel que jugará la tecnología en la cultura.

-¿La literatura pierde terreno frente a la informática?

-La literatura no puede ocupar el terreno de la informática y viceversa. Son formas distintas de entender el mundo. La informática puede ser una contribución, no a la literatura, sino a la lectura

-Entonces, ¿se lee de una nueva manera?

-En cualquier caso, la literatura siempre ha sido una actividad minoritaria. Me parece que ahora se lee y se escribe más. Quizá por la informática.

-Si recordamos aquello de que el medio es el mensaje.. ¿cómo afecta este nuevo medio los contenidos de la literatura, es decir, el sentido?

-Es absurdo pensar que lo que un escritor tenga para decir dependa del instrumento que utilice.

Así contesta Saramago -ya avisamos que el entrevistador puede quedar en ridículo- como quien sabe apropiarse de los medios que tiene a mano para esparcir las ideas que tiene claras. Eso: alguna vez el dijo a esta cronista que de chico pensaba en ser "conductor de trenes, maquinista, el hombre que va conduciendo el tren". Y que cuando le preguntaban por qué, decía que era "por el tren, la velocidad, la noche, uhh, uhh". ¿Qué tiene que ver con su presente? Que se pensaba como un conductor. La interpretación, aclaremos, es de él: "Creo que no lo estoy inventando ahora, creo que haber sentido esa responsabilidad", decía entonces. ¿Condicionará la informática esa empresa? No parece. Tampoco lo hará el dominio de los medios audiovisuales. Quien tenga algo que decir encontrará su rumbo. El es terminante:

-¿Lo audiovisual le arrebató el relato a la literatura? ¿La novela perdió la hegemonía sobre las historias?

-No, no y no.

-Es decir que usted no piensa que vamos hacia el fin de la novela...

-Se ha pronosticado muchas veces ese final, y la novela sigue vivita y coleando. Un premio literario para novela suscita el aparecimiento inmediato de 200 o 300 candidatos. ¿Dónde estaban esos libros? ¿Han sido escritos corriendo para cumplir el plazo? ¿O son el resultado de meses y meses de trabajo responsable, respetuoso del idioma?; autores que llevan un mundo dentro y lo quieren confrontar con la realidad que los rodea y limita.

-Un mundo dentro y un mundo fuera. ¿Usted es un "escritor comprometido"? ¿Con qué?

-Estoy comprometido, o sea, vivo, en un mundo que es un desastre. Como escritor y como persona, mi empeño es no separar al escritor de la persona que soy. Me esfuerzo, en la medida de mis posibilidades, en tratar de entender y explicar el mundo.

-Como escritor, su medio de intervención es la literatura. ¿Podemos volver a pensar si sirve para algo? ¿Si la literatura pueda mejorar (o empeorar) la vida, el mundo?

-Llevamos siglos preguntándonos los unos a los otros para qué sirve la literatura y el hecho de que no exista respuesta no desanimará a los futuros preguntadores. No hay respuesta posible. O las hay infinitas: la literatura sirve para entrar en una librería y sentarse en casa, por ejemplo. O para ayudar a pensar. O para nada. ¿Por qué ese sentido utilitario de las cosas? Si hay que buscar el sentido de la música, de la filosofía, de una rosa, es que no estamos entendiendo nada. Un tenedor tiene una función. La literatura no tiene una función. Aunque pueda consolar a una persona. Aunque te pueda hacer reír. Para empeorar la literatura basta con que se deje de respetar el idioma. Por ahí se empieza y por ahí se acaba.

-¿Que se deje de respetar el idioma? ¿Y no que haga depender la literatura del mercado?«r

-Pobre mercado, que le salen moretones por todos lados. Si el libro es una mercancía, hay que venderlo. ¿Dónde lo haremos? ¿En la Luna?

-Claro. Pero ¿no se invierten los términos y se escribe lo que se vende en lugar de vender lo que se escribe?

-Hay que tener cuidado con las ideas hechas. Por ejemplo: que el mercado condiciona al autor. No es cierto. Puede el mercado manifestar una preferencia por ciertos tipos de libros, de "modas", pero eso no obliga a ningún autor a seguir ese camino. Estamos creando una gran confusión: imaginar que los autores son iguales entre sí. Nos ocupamos de tópicos remanidos y no estudiamos la realidad. Y olvidamos demasiadas veces que las preguntas no son inocentes. Me molesta hablar de literatura y mercado. La literatura es la creación y no importa qué montaje se haga en torno a ella. Hay negocios, hay literatura. Y personas que leen para entender y personas que leen porque siguen campañas. Y personas que no leen. Lo importante, me parece, es no dejarnos llevar por estas cuestiones que desde luego a mí, como escritor, me son ajenas.

Así, así como se lo lee, así se lo escucha a José Saramago. Así: hay que tener cuidado con lo que se le pregunta porque está atento, porque está escuchando, porque integra la especie -¿en extinción?- de aquéllos a los que nada de lo humano les es ajeno. En su boca, y en sus oídos, las palabras pesan, no habrá que hablarle jamás con ligereza. No le interesa el mercado, háblenle de literatura, háblenle de política, háblenle del amor y del dolor, pero no del mercado; él es escritor, mercader no.

-Entonces, ¿quiénes siguen para usted el camino posible y deseable para la literatura contemporánea?

-Creo que ningún escritor en su sano juicio osaría contestar a esa pregunta. Yo, hasta ahora, no he perdido el mío todavía. Y creo que cada uno hablará por sí mismo.

Vueltas de la vida, el chico salido de aquel pueblito portugués, el nieto de un campesino analfabeto, es hoy un nombre de referencia entre sus contemporáneos. Sigue recibiendo homenajes: el 23 de noviembre se inaugura una exposición sobre él en la Fundación César Manrique, un lugar espléndido construido dentro de burbujas de lava en Lanzarote. En tres salas recorrerán su vida, su escritura, sus intervenciones cívicas. Reunirán otras obras generadas a partir de las de Saramago en cine, en televisión, en ópera, en pintura. Habrá cincuenta pantallas que pondrán en movimiento lo que está quieto en las vitrinas.

A minutos de ahí estará el hombre, atento a unos lagartos pequeñitos que se escurren por el suelo de su jardín de lava y cactus. A su ventana, bajo la cual corren sus sobrinos. A un amor que late a la vista de todos, constante como un minutero. Al cielo gigante y el mar omnipresente de la isla. A su mundo interior, claro. Estará ahí, sentado al teclado aunque parezca que lo tiene todo. Porque, claro, tiene una página sin terminar.

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terça-feira, 7 de agosto de 2007

Breve história das grandes revistas em cinco partes

Um dos mais importantes editores de revista do país, Thomaz Souto Corrêa resume a história das revistas em cinco partes. Thomaz tem passagens por Veja, Realidade, Nova e Cláudia; atualmente, é membro do Conselho de Administração, VP do Conselho Editorial e Consultor para Revistas do Grupo Abril.

Primeira parte de uma breve história das revistas

Tenho contado essa história das revistas desde 1986, em congressos, seminários, aulas no Curso Abril de Jornalismo. Como nunca me preocupei em patenteá-la, caíram-me em mãos versões apócrifas, nas quais não percebi sequer o desejo de mudar o meu estilo. Imagine então dar crédito... Vivendo e aprendendo. No futuro, terei mais cuidado, vou ouvir os conselhos da Alice, e serei menos pródigo em cópias.

Comecei a pesquisar a história das revistas porque não encontrei nenhum livro a respeito nas minhas andanças pelo mundo. Há diversos livros sobre a história das grandes revistas americanas e européias, mas nenhum contando a história das revistas, desde o início.

A mesma razão me levou a sugerir ao Roberto Civita que, em vez de comemorar os cinqüenta anos da Abril com uma grande festa, gastássemos o dinheiro para montar uma equipe e escrever o primeiro livro sobre a história das revistas no Brasil.

Para mim, não encontrar o livro sobre as revistas era como trabalhar no cinema sem saber qual tinha sido o primeiro filme. Por onde começar? Pelo Dedoc, claro. Susana Camargo e Bizuka Corrêa foram preciosas colaboradoras na pesquisa. Sem elas, eu não teria história para contar.

Esta história é uma pesquisa em aberto. Eu continuo lendo e encontrando pedaços espalhados em livros sobre revistas dos mais diferentes gêneros. Então, a que se segue é por assim dizer a versão mais atualizada. (Atenção, turma da cópia!)

O aspecto mais fascinante da história das revistas é que toda essa indústria repousa em apenas algumas poucas idéias de revistas que foram se reproduzindo ao longo do tempo, no mundo inteiro. Preciso confessar aqui que me concentrei na história das revistas ocidentais, pelas óbvias dificuldades em pesquisar as orientais.

E também porque nenhum estilo de revista oriental com a exceção dos "mangás", que eu saiba influenciou o nosso modo de fazer revista. Ah, não, há uma exceção: fazem-na os designers que põem títulos na vertical...

Vamos então a essa história de idéias de revistas. A primeira de que se tem notícia já embutia o conceito de que revista é sinônimo de variedade. O objeto era igual a um livro, mas com assuntos variados, ainda que reunidos sob um mesma tema, no caso a teologia. Enquanto os livros tratavam e geralmente tratam de um mesmo tema, a revista inovou, ao tratar de um mesmo tema com assuntos variados.

Chamava-se Edificantes Discussões Mensais a primeira revista de que temos registro. Nasceu em Hamburgo, em 1663, e era parecida com o Foreign Affairs de hoje em dia: o formato quase igual, o mesmo "jeitão": uma sucessão de artigos em branco e preto.

Corre uma história curiosa no mundo revisteiro, do gênero "se non é vero..." A revista teria sido percebida pelo leitor como se fosse uma loja, onde as pessoas entram, escolhem e compram somente o que querem consumir. Na revista, acontece a mesma coisa: o leitor entra na revista, e escolhe o que quer ler. Daí o nome magazine pelo qual as revistas são conhecidas em alguns países da Europa e nos Estados Unidos. Mas sei lá, entende?

Seja lá como for, a idéia deu certo, sem nenhuma pesquisa de mercado, e a novidade da revista monotemática foi logo copiada. Em 1665, surgiram a francesa Jornal dos Sábios, sobre ciências, e a inglesa Transações Filosóficas; em 1668, apareceu a italiana Jornal dos Literatos.

O passo seguinte foi a invenção da revista multimemática. Na França, em 1672, alguém teve a idéia de misturar assuntos muito variados, debaixo de um mesmo título, e inventou o que hoje chamamos de revista de interesse geral. O Mercúrio Galante publicava crônicas sobre a Corte, anedotas elegantes, poesia.

Mas levou vinte anos para que alguém inventasse a primeira revista feminina da história, em 1693, sempre na França. Pelo jeito, essa revista era aparentada com o Galante, porque se chamou Mercúrio das Senhoras. Também tinha a crônica da Corte e poesia, mas mostrava desenhos de roupas, moldes para vestidos e bordados, poesia.

Dando uma de engenheiro de obra feita, fica fácil dizer que, do ponto de vista do marketing, as revistas nasceram segmentadas por tema teologia, ciências, literatura , e o Mercúrio Galante inaugurou a seção de revistas segmentadas por mercado leitor, no caso o feminino.

O número de novas revistas se multiplicou pela Europa, onde o analfabetismo diminuía e o interesse por novas idéias crescia.

O aparecimento das revistas nos Estados Unidos começou com uma história de ferrenha concorrência. Era 1741, e Benjamim Franklin estava para lançar no dia 13 de fevereiro a primeira revista do novo continente, chamada General Magazine and Historical Chronicle. Mas Ben tinha um concorrente nos negócios, que já ouvira falar da novidade. E foi assim que Andrew Bradford lançou o American Magazine, or Monthly View, três dias antes!

A briga sobre quem tinha sido o primeiro foi curta, porque a revista de Bradford durou três meses, e a de Franklin seis. Interessante notar que ambas as revistas tinham dois títulos, separados por or ou por and, e esse costume acompanhou as revistas americanas durante muito tempo.

Aliás, as brasileiras também começaram com a mesma dúvida sobre quem teria sido a primeira. Em 1808 saiu o Correio Brazilense ou Armazém Literário (perceberam o ou?). Quatro anos depois surgiu As Variedades ou Ensaios de Literatura (olha ele aí de novo...) . Como ambos tinham aparência de livro, o Correio passou a ser o primeiro jornal, porque alguns historiadores acharam que Variedades obedecia mais a um espírito editorial de revista (seja lá o que isso for), e ela virou oficialmente a número um da categoria. Tanto que a consideramos como tal no nosso livro A Revista no Brasil.

No próximo capítulo, falaremos sobre como nasceu o negócio revistas. E sobre idéias que fizeram, e fazem, história.

Segunda parte de uma breve história sobre as revistas

Pois então, como eu ia dizendo, vamos direto ao ponto: quando foi e como é que as revistas viraram negócio. Até 1830, revistas eram um produto caro, de elite, consumido pelas classes mais altas, de formação escolar avançada. O negócio nasceu quando um inglês decidiu fazer uma revista com preço de capa baixo, barato.

Sabe-se que essa primeira revista popular tinha matérias leves de entretenimento, informação variada, era quase um almanaque. Como esse tipo de conteúdo interessava a uma quantidade maior de leitores, e com a ajuda do preço de capa baixo, a revista ganhou circulação, a circulação maior atraiu anunciantes, e a roda começou a girar.

Por sua vez, o dinheiro movimentado pelo negócio propiciou o avanço tecnológico, que aperfeiçoou os sistemas de produção e de impressão em massa, o que fez com que as revistas fossem produzidas a preços unitários cada vez menores.

A revolução seguinte viria em Londres, no ano de 1842, com uma novidade fascinante no visual das revistas: a primeira revista ilustrada. Chamava-se — ou chama-se, porque existe até hoje, embora com pouca importância — Illustrated London News. Tinha 16 páginas de texto e 32 de gravuras, feitas por artistas conhecidos, que reproduziam os acontecimentos em desenho, como fazem até hoje a mídia impressa e a televisão, quando não têm imagens do fato.

A nova fórmula foi muito aperfeiçoada com a chegada da fotografia na imprensa, e da impressão com meio-tom, por volta de 1850. E é evidente que a tecnologia foi logo adotada por quase todos os tipos de revista.

Revistas femininas se multiplicaram no século 19. Tinham uma fórmula editorial dedicada basicamente aos afazeres do lar, às novidades da moda, moldes de roupas e monogramas para bordar, como acontece até hoje.

Quatro grandes revistas femininas americanas são dessa época e já comemoraram mais de 100 anos de vida: Harpers Bazaar é de 1867; Ladies Home Journal, de 1883; Good Housekeeping, de 1885; e Vogue, de 1892. A segunda mais antiga, McCalls, que nasceu como Queen em 1876, desapareceu para dar lugar à também já extinta Rosie.

A primeira revista feminina brasileira teve um nome comprido e uma vida curta: nasceu em 1827 e morreu em 1828. O título era O Espelho Diamantino, e o subtítulo dizia: Periódico de Política, Literatura, Bellas Artes, Theatro e Modas Dedicado às Senhoras Brasileiras. Vida curta, aliás, foi característica do nascimento de muitas revistas em todo o mundo.

Em 3 de março de 1923, dois jovens senhores chamados Briton Hadden e Henry Luce lançaram nos Estados Unidos uma revista chamada Time, The Weekly News-Magazine, que marcou o que se convencionou chamar de "newsmagazines" ou "newsweeklies", a revista semanal de notícias. Hadden e Luce consideravam o povo americano mal-informado. Decidiram criar uma revista que, uma vez por semana, "sumarizava as notícias da semana no menor espaço possível".

O que pouco se comenta é que essa fórmula se valia da leitura dos mais importantes jornais norte-americanos da época. Ou seja, Time organizou o país e o mundo, em suas principais áreas de interesse, a partir do que era publicado nos jornais mais importantes. E apresentava o resultado dessa compactação em 28 páginas editoriais, que podiam ser lidas em meia hora.

O estilo em que o texto era escrito também fez parte da novidade: frases curtas, em forma de narrativa, com informações pesquisadas e checadas. Mas Time ia além da condensação: acrescentava um contexto ao que havia ocorrido e emitia uma opinião. "O homem ocupado não tem tempo para perder", achavam Hadden e Luce em 1923, antecipando uma verdade que hoje nos aflige ainda mais.

A invenção e o sucesso do "newsweekly" geraram dois concorrentes nos Estados Unidos: em 1933 nasceram Newsweek e U.S News and World Report. A fórmula atravessou o Atlântico: Der Spiegel (que significa "o espelho") nasceu na Alemanha em 1947, LExpress na França em 1953, e Panorama na Itália é de 1962. Veja, a primeira "newsweekly" brasileira, é de 1968.

Em 1936, Henry Luce surpreendeu mais uma vez o jornalismo de revistas, lançando Life, a primeira revista ilustrada no mundo a usar a reportagem fotográfica como fórmula básica. Foi o próprio Luce que inventou a expressão "ensaio fotográfico". No folheto de lançamento, redigido por ele mesmo, Luce prometia que a missão da revista era "ver a vida, ver o mundo; testemunhar grandes acontecimentos, ver os rostos dos pobres e os gestos dos orgulhosos".

Life chegou a vender mais de oito milhões de exemplares por semana e morreu vítima do próprio gigantismo, com o aparecimento de um veículo de massa mais potente, a televisão, que apresentou aos anunciantes a possibilidade de falar com mais gente a um preço menor.

A exemplo do que acontecera com Time, Life também inspirou o aparecimento de revistas ilustradas com reportagens fotográficas no mundo inteiro.

Antes da chegada de Life, a Europa já publicava revistas ilustradas. Na França, Vu e Match vendiam, segundo algumas versões, quase dois milhões de exemplares por semana. Match, como o nome indica, nasceu como revista de esportes. Paris Match, já com o novo nome, reapareceu depois da guerra, em 1948, e depois de alguns anos já se adaptava ao modelo Life. O ano de 1948 marcou também o lançamento da alemã Stern. Época foi lançada na Itália em 1959.

Por incrível que pareça, Assis Chateaubriand já tivera a idéia de lançar uma revista ilustrada muito antes dos norte-americanos e dos europeus: O Cruzeiro é de 1927, mas o jornalismo fotográfico só foi incorporado depois do aparecimento de Life. Mais inspirada no modelo francês, Manchete surgiu em 1952.

De todas elas, só Match e Stern sobreviveram até hoje como revistas de sucesso. Sofreram muitas mudanças editoriais ao longo do tempo, mas souberam manter os leitores atraídos pelo gênero ilustrado, apesar da importância da televisão em seus países.

Na terceira parte, mais algumas idéias geniais que também continuam até hoje. Talvez seja a última parte. Não sei. Vamos ver. Seja como for, acho importante contar essa história porque dela sempre aprendemos lições para o presente e para o futuro. Tem gente que acha que é história é só passado. Mas aí, não tem jeito mesmo.

Terceira parte de uma breve história das revistas

Como esta terceira parte levou algum tempo para ser contada, vamos refrescar a memória. Terminamos o último capítulo com a história das revistas semanais ilustradas. Agora vamos voltar ao ano de 1922, uns poucos meses antes do lançamento de Time, quando surgiu uma outra idéia que iria resultar numa das maiores revistas de todos os tempos. Com cinco mil dólares emprestados dos pais e dos irmãos, DeWitt Wallace — que ninguém achava que faria algo importante na vida — e sua mulher Lila lançaram uma revista que republicava os melhores artigos que encontravam nas outras revistas e jornais.

"Eu simplesmente procuro coisas que me interessem; se me interessarem, eu publico", confessou ele. Chamou a revista de Readers Digest, literalmente "uma compilação (de histórias) para os leitores". Essa idéia só não foi copiada no mundo inteiro, porque DeWitt Wallace se encarregou ele mesmo de lançar a revista internacionalmente: são hoje 48 edições em 19 línguas.

Como o nome em inglês era de difícil tradução, ao logotipo de Readers Digest acrescentou-se em algumas línguas a palavra Seleções, até hoje uma das revistas mais vendidas no planeta. Em torno da revista, ou em torno da marca, criou-se um negócio de vender livros de todos os gêneros, guias de viagem, vídeos, coleções de CDs de música clássica e popular, sempre com um foco muito dedicado à família. Esse negócio é atualmente muito maior do que o negócio gerado pela revista.

As revistas em quadrinhos nasceram das tiras publicadas diariamente nos jornais americanos, quando alguém teve a idéia de juntá-las numa revista. Era, portanto, uma re-publicação das histórias que saíam nos jornais. Em 1934, surgiram as primeiras revistas com histórias inéditas, entre elas a de um pato falante, batizado de Donald. Só depois é que vieram os super-heróis. O Superman, primeiro deles, é de 1938.

Nessa mesma época, anos trinta, a já poderosa indústria cinematográfica americana gerou as primeiras revistas de fãs, que desapareceram com o advento da televisão. Para se ter idéia do poder dos estúdios, diz a história que uma revista brasileira chamada Cinelândia chegou a vender 250 mil exemplares, e isso na década de 50. Era muita revista para um tempo em que só havia venda em banca, e que tinha muito menos bancas do que hoje.

Na Itália, os estúdios de Cinecittá produziam as obras-primas do cinema italiano de pós-guerra, e nos intervalos serviam de cenário para as fotonovelas, romances fotografados que só fizeram sucesso no mundo latino. Mas que sucesso! Só no Brasil dos anos 57, Capricho chegou a vender meio milhão de exemplares, com o slogan de "a maior revista da América do Sul". E era.

A televisão não só matou as revistas de cinema, como assassinou também as fotonovelas, com o aparecimento das telenovelas. Só que — da mesma maneira que Hollywood tinha provocado o aparecimento de revistas de fãs de cinema — a televisão criou o gênero das revistas de programação e reportagens sobre artistas e programas, campeãs de venda em quase todos os países do mundo ocidental, com exceção do Brasil onde, como vocês sabem, a maior revista é uma semanal de informação, a Veja.

De alguma maneira, tanto as revistas de cinema, como as de televisão, são as precursoras dessa onda de revistas de celebridades, o que mostra que o fascínio de leitores pela vida dos famosos vem de muito longe.

Enquanto o pós-guerra italiano fez surgir as fotonovelas, na França uma senhora chamada Hélène Gordon-Lazareff, casada com um dos fundadores da Paris Match, criou uma revista semanal feminina quea cabou restituindo à mulher francesa o gosto pela vida. Elas haviam passado por uma guerra, um longo período de privação e sofrimento, onde muitas perderam os maridos, passaram fome, e precisavam muito de algo que as fizesse recuperar a auto-estima.

Essa revista — lançada em novembro de 1945 — era a Elle, e o sucesso foi imediato. Mesmo impressa em papel pobre, sem luxo algum, a revista mostrava à mulher francesa como era possível recuperar a feminilidade com pouco dinheiro. Além disso, acrescentava a esse serviço uma visão cultural da França que renascia, e falava sobre novos costumes e personagens.

Em 1953, trabalhando na cozinha do apartamento onde morava em Chicago, um ex-funcionário do departamento de promoções da revista Esquire, chamado Hugh Hefner, inventou a Playboy. A idéia era simples e ousada. Hef, para os íntimos, usou a mesma fórmula da sofisticada Esquire: bom jornalismo, contos de grandes escritores, cartuns de humor fino, requintada gastronomia, ilustradores que eram os mais conhecidos artistas plásticos da arte americana naquele momento, e lições de elegância com os segredos dos melhores alfaiates da época.

E aí veio a ousadia: a esse pacote de sofisticado jornalismo, Hefner acrescentou fotos de quem ele chamava de "a garota da porta ao lado", a vizinha, inteiramente nua, mas sempre com muito bom gosto, com muita classe. Verdade que ele usou Marilyn Monroe nua para vender a primeira edição, mas a novidade era fotografar moças de família, que ninguém poderia imaginar que apareceriam daquele jeito numa revista masculina.

Playboy tem hoje 17 edições internacionais, uma das quais é a nossa, que só perde em circulação para a americana. A fórmula inventada por Hefner foi das mais copiadas no mundo.

Mas a revista que atualmente tem mais edições internacionais foi desenvolvida em 1962 por uma secretária, autora de um livro chamado "Sex and the Single Girl" — sexo e a moça solteira. O sucesso do livro foi tão grande que Helen Gurley Brown achou que tinha idéia para uma revista.

Procurou uma grande editora, a Hearst, e saiu da primeira visita com a incumbência de só voltar quando tivesse as chamadas de capa para 12 edições. O presidente da Hearst queria ter certeza de que a idéia era válida para uma revista mensal, e não algo que poderia morrer no sexto número.

Helen passou no teste. Só que a Hearst estava com uma velha revista — velha mesmo, era um magazine literário fundado em 1835! — em total decadência. Era a Cosmopolitan. E por menos que ela gostasse da idéia, a revista tinha que se chamar assim mesmo: Cosmopolitan.

Provando que os problemas de jovens solteiras interessadas em carreira, independência e relacionamento com o sexo oposto são iguais no mundo inteiro, Cosmo tem hoje 50 edições internacionais em 25 línguas, em países tão diversos quanto Croácia, Índia, China e Japão. A nossa Nova é a única que não se chama Cosmopolitan, porque nós achamos o nome muito complicado para o mercado brasileiro.

Na quarta e última parte dessa já não tão breve história das revistas, vamos examinar as mais recentes idéias de sucesso e algumas tendências que começam a dar forma a algumas visões muito estrambóticas, construídas por um avanço tecnológico cuja velocidade nos apanha de surpresa a cada onda.

Quarta parte de uma breve história das grandes revistas, que não está ficando tão breve assim

Como já faz algum tempo desde a publicação (eletrônica) da terceira parte, começo com dois avisos e uma consideração. O primeiro aviso é que, ao contrário do anteriormente prometido, esta não será a última parte. Tem mais uma. Sinto muito. O segundo aviso é que mudei o título da obra (por enquanto eletrônica) para Uma breve história das grandes revistas, sendo novidade a palavra grandes.

A consideração é que vou reforçar um conceito já analisado antes, mas que por ser fundamental não custa repetir. Esta história mostra que toda grande revista nasceu de uma igualmente grande idéia. Não houve necessidade de pesquisa de mercado, porque os revisteiros que as criaram tinham uma visão clara do que queriam, e confiança em que suas revistas achariam um público interessado.

Muito bem. Isto posto, vamos ver o que apareceu de mais recente no grande mundo das revistas. Hoje, quando analisamos o movimento de novos títulos nos principais mercados ocidentais, vemos o lançamento de novas idéias concentradas na última década do século passado.

Na Inglaterra, dois jovens jornalistas, Tim Southwell e James Brown, que faziam suas reuniões regadas a cerveja num pub londrino, inventaram, em 1993, a revista de "beer and babes" cerveja e mulher. Ingredientes: um humor irreverente, machão, debochado, e mulheres conhecidas, mas seminuas nunca a nudez total. E, como não podia deixar de ser, muito futebol.

Por que evitaram a nudez total? Porque, na Inglaterra, as revistas de mulheres nuas vão parar na prateleira mais alta das revistarias, quase inacessíveis, onde estão também as publicações pornográficas. Com as moças mínima e estrategicamente cobrindo as chamadas partes pudendas, essas revistas ganham exposição normal, ao lado de outros títulos de grande circulação.

A revista inventada pelos dois maluquinhos se chamava Loaded, lançada em 1993, com sucesso imediato. Era completamente diferente das tradicionais revistas masculinas, comportadas e elegantes. As reuniões de pauta eram sempre feitas às gargalhadas no tal pub, em ambiente ostensivamente alcoolizado.

Quando a maior editora inglesa de revistas, a IPC (hoje fazendo parte do conglomerado Time Inc.) comprou a Loaded, não quis trazer a redação para o imponente edifício que tinha o apelido de "Ministério das Revistas", tamanha a bagunça e a sujeira da redação, onde drogas se não incentivadas eram pelo menos abertamente toleradas.

A fórmula foi imediatamente copiada por duas revistas: a FHM e a Maxim. FHM tornou-se e continua a ser a maior, Maxim segue no segundo lugar, e a Loaded, desertada pelos fundadores, que não se adaptaram ao esquema de trabalho de uma grande empresa, ficou em um melancólico terceiro lugar. Mas foi Loaded a precursora da fórmula que, atravessando o Atlântico, chegou aos Estados Unidos para complicar a vida das revistas masculinas americanas.

Maxim, a primeira a chegar, subiu rapidamente para 2,5 milhões de exemplares, mas não abalando a Playboy, com seus 3 milhões de exemplares. FHM, que demorou mais a entrar no aguerrido mercado americano, também se deu bem, e hoje está com 1,2 milhão de revistas vendidas. O fato de que não tenham prejudicado Playboy mostra que conquistaram leitores novos, mais jovens do que os da revista do coelhinho.

Outra idéia de sucesso nasceu nos Estados Unidos, resultado da associação da mais conhecida entrevistadora de televisão, a afro-americana Oprah Winfrey, com a importante editora Hearst: uma revista chamada O, que se dedica a mostrar um estilo de vida baseado na tranqüilidade da alma e do corpo, na beleza do espírito, em flagrante contraste com a vida agitada da mulher americana.

Oprah, uma preta bonita, meio gordinha, aparece em todas as capas, aprova a pauta de cada edição, e escreve o editorial e matérias. O lançamento aconteceu em abril de 2000. A venda estourou. O chegou rapidamente ao milhão de exemplares vendidos, e hoje está com 2,6 milhões, perto da Cosmopolitan, que tem quase 3 milhões.

Acompanhando o sucesso de Oprah, Time Inc. reagiu rapidamente lançando, em março de 2000, uma revista chamada Real Simple, que tem sob o logotipo quatro palavras, life, home, body, soul: como ser mais simples na vida, na casa, no corpo, e na alma. Palavras que, associadas ao nome Real Simple, definem a missão da revista. Ou seja, como O, aderiu à vida tranqüila da alma e do corpo. O começo de Real Simple não foi simples. A primeira diretora foi demitida dois meses depois do lançamento. A revista não só não era simples, como era realmente gelada.

Foi a segundo diretora, Carry Tuhly, que acertou o rumo. E, sonho de qualquer editor, fez com que a revista fosse crescendo de maneira lenta mas consistente, tendo hoje ultrapassado o milhão de exemplares. Ou seja, o velho, bom e eficiente boca-a-boca. Tuhly foi misteriosamente afastada da revista tendo construído o sucesso da publicação e "promovida" para um cargo de desenvolvimento de revistas. A fofoca é que uma chefe da área editorial não gostava do jeito dela...

Outro fenômeno foi o aparecimento de revistas com grande ênfase em consumo. Nessa área, a grande editora americana Condé Nast lançou, em 2001, uma revista de moda chamada Lucky, ou "sortuda", cuja fórmula editorial é explicitamente a de um catálogo de compras. Claro que a idéia já foi copiada não só nos Estados Unidos, onde outras quatro foram lançadas, com novos títulos femininos, masculinos e de decoração. A Europa entrou na mesma onda, com a Alemanha inovando com uma revista de shopping de objetos "high tech".

Até aqui contamos histórias de idéias que nasceram no hemisfério ocidental. Do mundo oriental, sabe-se pouco. Só que o Japão é o segundo maior mercado de revistas do mundo, atrás dos Estados Unidos. Mas já sabemos que os mangás estão invadindo o Ocidente, inclusive o Brasil. Por falar em Brasil, duas grandes idéias originais farão parte do próximo capítulo.

Quinta e última parte de uma breve história das grandes revistas, que acabou não sendo tão breve assim

Desculpem a demora, mas pelo menos estou entregando o fim dessa fascinante história antes do fim do ano. É que, ao rever as quatro partes anteriores, me dei conta de que fiz algumas injustiças, deixando de fora no mínimo cinco idéias importantes de revistas de sucesso.

A primeira, por ordem cronológica, nasceu de uma associação científica. Fundada para "fomentar e difundir o conhecimento da geografia", a "National Geographic Society" tinha 33 membros, dos quais elegeu como presidente Gardiner Greene Hubard. Era janeiro de 1888. Em outubro do mesmo ano, Hubard lançou o que chamou de revista, mas que parecia mais um folheto científico, pouco atraente, cheio de texto. A idéia era reforçar a missão da associação com uma revista. O primeiro número teve 200 exemplares, equivalente ao número de sócios, que Hubard endereçou a mão, um a um.

A revista The National Geographic Magazine não teve periodicidade fixa até janeiro de 1896, quando se tornou mensal.

Não andou muito bem de vida até que um jovem jornalista de 23 anos de idade assumiu o cargo de diretor de redação. Chamava-se Gilbert Hovey Grosvenor, ficou 65 anos à frente da revista, e moldou a personalidade editorial da publicação, cuja fórmula inédita transformou em uma das maiores revistas do mundo, em todos os tempos.

Para se ter uma idéia do ineditismo, foi National Geographic a primeira revista usar fotos pintadas à mão, em 1910; e a primeira, a usar fotos coloridas, em 1914. Seu maior feito foi mostrar, primeiro para os leitores americanos, depois para os de outros países, partes do mundo jamais sonhadas por alguém. E o fazia com um padrão de qualidade de imagem e de reportagem que até hoje ninguém conseguiu superar.

A grande idéia seguinte foi The New Yorker, criada por Harold Ross em 1925. Nasceu com grande vocação literária. Tinha um time quase fixo de grandes escritores, entre os quais John O'Hara, John Updike e J.D.Salinger. Até hoje, The New Yorker é uma das poucas revistas que continua a publicar ficção e poesia em todas as edições.

Ross era um homem rude, mal educado, que perguntava na redação: "Moby Dick é o nome da baleia ou do homem?" Mas sabia exatamente o que queria: uma publicação sofisticada e bem humorada. Detestava o que chamava de "tapeação". Criou uma revista cujo prestígio sempre foi maior do que a própria circulação. Credita-se a ele a invenção do gênero que hoje chamamos de "perfil".

Com Ross, e com seu sucessor William Shawn, The New Yorker estabeleceu um patamar de estilo e de reportagem inigualável. Sua última façanha aconteceu em maio de 2005, quando furou toda a imprensa americana, ao publicar uma reportagem de seu conhecido e premiado repórter Seymour Hersh, sobre a tortura dos presos iraquianos nas prisões de Abu Ghraib.

A terceira é Esquire, lançada em Nova York no ano de 1933, por um senhor muito elegante chamado Arnold Gingrich. Arnold era o editor de uma revista profissional de moda masculina. Devido ao grande sucesso dessa publicação, os donos pediram a ele que pensasse numa revista de consumo, mas que tivesse como ingrediente principal a moda masculina.

Arnold fez muito mais do que uma revista de moda para cavalheiros. Ele decidiu que a revista tinha que ter ficção, e publicou os melhores escritores americanos da época: conquistou Hemingway (dizem que num duelo etílico ganho por Arnold, uma verdadeira proeza, considerando o que Hemingway bebia...), que por sua vez trouxe Faulkner, Scott Fitzgerald, Nabokov, Truman Capote, e tantos outros da mesma importância.

Fez mais ainda: tornou a revista o padrão de elegância não só em roupa, mas o referencial de estilo de vida e de bom gosto, que serviu de inspiração principal para o homem americano afluente daquela época. Mostrava os carros de luxo, os drinques da moda, a gastronomia sofisticada, as novidades do jazz...

Esquire passou por diversas fases em sua longa existência de mais de 70 anos de vida. Nos anos 60, o então diretor Harold Hayes admitiu que nem ele, nem o diretor de arte Roberto Benton sabiam fazer capas. Tomou então uma corajosa decisão: convidou o mais criativo publicitário da época, George Lois, para "reinventar" o conceito de capa de revista.

Começando em outubro de 1962, Lois criou mais de 90 capas para Esquire. Nenhuma passou despercebida. Eram irreverentes, ou cruéis, ou lindas, ou inesperadas, algumas consideradas até de mau gosto, mas nenhuma revista americana da época chegou perto da repercussão, edição após edição, das capas de Esquire.

Nenhuma história das idéias que produziram grandes revistas pode ignorar a espanhola Hola!. Nascida em 1944 como uma revista de amenidades, idealizada por um jornalista chamado Antonio Sanchez Gomez, e paginada pela mulher Mercedes, transformou-se na revista que durante muito tempo foi a mais vendida na Espanha, mostrando histórias de famílias reais européias e das celebridades internacionais.

Foi de Hola!, hoje dirigida pelo filho do fundador, Eduardo, a idéia de mostrar a intimidade das casas das celebridades. E seus namoros, noivados, casamentos, viagens de lua-de-mel, separações e novos amores. Basta olhar as revistas atuais de celebridades, no mundo ocidental, para reconhecer a fonte de onde beberam.

People, lançada em março de 1974, inaugurou o jornalismo de personalidades nos Estados Unidos. Só que, ao mesmo tempo, publicava também histórias humanas de personagens desconhecidos. Segundo sua fórmula editorial, a revista contaria "feitos ordinários de pessoas extraordinárias, e feitos extraordinários de pessoas ordinárias".

People inovou na maneira respeitosa com quem tratava as personalidades, o que era essencial para se diferenciar das revistas escandalosas da época. Até hoje a revista mantém essa atitude garantindo seus três milhões e meio de exemplares semanais, apesar de toda a concorrência aparecida nos últimos anos. Além disso, é a revista americana de maior faturamento publicitário, o que a faz também uma das mais lucrativas.

Richard Stolley, o primeiro diretor de People, cunhou a lei que levou seu nome, e que definia quem funcionava melhor na capa da revista: "Jovem é melhor do que velho. Bonito é melhor do que feio. Rico é melhor do que pobre. Cinema é melhor do que música. Música é melhor do que televisão. Televisão é melhor do que esportes... e qualquer coisa é melhor do que política". Posteriormente, ele acrescentou: "E nada é melhor do que a morte de uma celebridade..."

Adaptada para hoje, talvez televisão viesse antes de música, e música antes de cinema, mas as outras considerações permaneceriam imutáveis.

Vamos finalmente falar de Brasil. Quais foram as idéias realmente inovadoras? Reconheço no mínimo três. Já contei um pouco da história de O Cruzeiro, que era semanal ilustrada antes que se consagrasse a fórmula de Life. A fórmula tupiniquim foi fruto da visão de seu fundador, Assis Chateaubriand, proprietário da maior cadeia de jornais que já existiu neste país. Como distribuía seus jornais em bancas pelo Brasil inteiro, O Cruzeiro nasceu com rede de distribuição garantida.

Mas foi uma grande revista por ter juntado uma equipe de bons jornalistas e fotógrafos e de notáveis. Seus redatores eram os grandes nomes da literatura e das artes plásticas daquela época. Morreu quando essa equipe se desfez, quando entrou a concorrência de Manchete, muito mais colorida, mas ao mesmo tempo com gente muito boa na redação, entre as quais o grande revisteiro Justino Martins.

Juntar equipes importantes sempre foi uma das razões de sucesso das grandes revistas. Duas outras revistas, ambas mensais, desenvolveram fórmulas editoriais muito originais graças a seus fundadores e aos times que eles montaram.

A primeira, se chamou Senhor, viveu de 1959 a 1964, e foi inventada por um brilhante editor chamado Nahum Sirotsky, que hoje vive em Israel.

Nahum fez uma revista linda e inteligente. Chamou os melhores textos, ilustradores, fotógrafos e artistas gráficos do Rio de Janeiro daquela época, e fez uma revista com gosto de uma Ipanema que ainda não havia virado internacional, mas onde a vida boêmia nos bares e botequins juntava músicos, escritores, jornalistas, artistas plásticos, que fizeram naquela época o maior centro de efervescência cultural da história do Brasil.

A segunda revista nasceu quase por acaso. Roberto Civita queria fazer uma revista para ser encartada em jornais de domingo. Fez um acordo com a Folha e o JB, mas quando estava tudo pronto para começar, a Folha deu para trás e o projeto morreu. Roberto foi ver o pai, Victor Civita, fundador da Editora Abril, para contar a triste história, e terminou com a clássica pergunta: "E agora, o que é que eu faço?"

"Faz uma revista", respondeu o pai. E assim nasceu Realidade. Mas Roberto também tinha uma revista na cabeça. Chamou um time de excelentes repórteres, fotógrafos excepcionais, alguns deles americanos esperando uma oportunidade assim para fotografar o Brasil.

E fez uma revista com um design gráfico que realçava o impacto do jornalismo praticado pela revista. Realidade era uma revista de grandes reportagens, tratando de temas que eram tabus no Brasil dos anos 60. Desapareceu quando os temas deixaram de ser tabus, e passaram a ser tratados normalmente pela imprensa brasileira.

Termina aqui a história das idéias das grandes revistas. Tentei falar somente daquelas cujas fórmulas foram inovadoras, criando modelos que ainda estejam em circulação. Por isso não entram na lista uma porção de grandes títulos de revistas conhecidas e lucrativas.

Uma outra consideração é o predomínio de revistas americanas, e isto aconteceu por duas razões: a primeira, é que há efetivamente uma concentração de revistas de sucesso no mercado americano; a segunda, é que os americanos escreveram a história de suas revistas, e eu não encontrei em nenhum lugar do mundo ocidental a história das revistas européias, por exemplo. Há alguns poucos livros com a história de algumas revistas de sucesso, mas cada obra dedicada a uma publicação, não a história geral do meio.

Conto sempre esta história para mostrar que, a todos esses revisteiros e revisteiras, devemos a pujança do mercado editorial de revistas, no mundo inteiro. Foram eles que, sem nenhuma pesquisa de mercado, inspiraram a maioria dos títulos que conhecemos hoje. Foram inovadores e pioneiros porque confiaram na intuição e na certeza de que estavam fazendo publicações que o público iria gostar e comprar.

Porque é esta a única medida de sucesso para qualquer revista: o leitor gostar. Revistas fecham quando o leitor deixa de gostar. Daí o nosso maior desafio: manter nossas revistas interessantes e relevantes, antenadas e atualizadas, bonitas e bem cuidadas, e sempre, sempre, indispensáveis para quem as lê.

Via Curso Abril de Jornalismo