segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Foto: Escultura de neve na China

* Escultura de neve "Romantic Feelings" em Harbin, na província de Heilongjiang, China. Da Reuters.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Central da Periferia no Haiti

* O Haiti é não aqui? Regina Casé mostra no Central da Periferia como jovens haitianos vivem na periferia. Exibido em 9 de dezembro de 2007. Vídeo aqui.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

JC: A Vida Mambembe

* Série de reportagens assinada por Fabiana Moraes sobre a vida de artistas de circos que circulam pela periferia. Publicada em de 23 de outubro de 2006 no Jornal do Commercio, ganhou o Prêmio Esso 2007 na categoria Regional 1.

Sobrevivendo sob a lona

São nove da noite e Maria Aparecida de Albuquerque, a Cida, 40 anos, está apressada: pinta os lábios de vermelho rapidamente, coloca sombra escura, escova os cabelos. Veste um maiô preto com lantejoulas, bem cavado, sobre a meia arrastão. Dá um beijo no filho Diego, de 12 anos, portador de paralisia cerebral, e sai correndo: está na hora da dona de casa, casada, dois filhos, transformar-se na maravilhosa Shirleide, a mulher que todas as noites canta sucessos de Gretchen ou Calypso para uma platéia que paga R$ 1 para entrar no circo Trans-América, um dos poucos circulando na periferia no Recife. Às vezes, são 300 pessoas aplaudindo. Às vezes, apenas 30. Por mais contraditório que pareça, Shirleide não se importa tanto com o número de espectadores, mas Cida está sempre na expectativa: ela sabe que o café da manhã e o almoço do dia seguinte dependem do dinheiro que seu filho mais velho, Diogo, 18, vai trazer da bilheteria.

Para Shirleide, a vida é bem mais glamourosa: além de rebolar, sorrir e ser aplaudida, ela também é admirada enquanto rodopia no ar usando a lira (circunferência de ferro pendurada no alto da lona) no número de balé aéreo. Cida, por sua vez, tem que cozinhar diariamente para cerca de 15 pessoas, costurar as roupas já gastas dos artistas do Trans-América e levar o filho menor, duas vezes por semana, para a fisioterapia. O trabalho é árduo. Diogo pesa cerca de 60 quilos e não anda. Ela precisa de dois ônibus para chegar até Afogados, onde seu filho se trata.

Enquanto ela vai, o marido, Gerson Cardoso da Silva, 55, fica cuidando do espetáculo e de assuntos burocráticos relativos ao circo que adquiriu há cerca de 13 anos. Os problemas são muitos, e variados: há o pagamento dos integrantes da trupe, a lona que está rasgada, o sumiço do equipamento de som, a contratação da banda que animará o espetáculo de logo mais. Gerson faz as vezes de animador. Por volta das 20h30, ele entra no trailer usado como cabine de som e de lá chama os artistas ­ inclusive a esposa Cida/Shirleide.

“Convido a todos para a viagem de ilusão e fantasia! senhoras, senhores e crianças, o sonho vai começar!”, diz ele, enquanto o picadeiro é invadido pelo trapezista e palhaço Ricardo, 24, que mostra o giro espacial, um número onde o artista faz várias evoluções usando os braços como apoio, ou apenas as pontas dos pés. Enquanto o rapaz gira a vários metros no chão, um homem bêbado entra no circo e fica observando a façanha.

Nesta semana, o Trans-América estava na quarta etapa de Rio Doce, local com maior “produto interno bruto” do que, por exemplo, a Favela do Rato (Comunidade do Pilar), onde a tenda havia sido armada antes. Quanto mais pobre é a platéia, mais mirrada é a renda do circo. Em Rio Doce, a média do público animou seu Gerson, que viu cerca de 100 pessoas irem até a lona nos dias de atrações como shows de brega e bailarinas seminuas.

Ele chama a próxima estrela: é o Palhaço Chupetinha, que, sem maquiagem, é o garoto Lardi, de apenas seis anos. Ele adora a profissão e quer ser como o pai, Laudionor Lima da Silva, 26, o Palhaço Mutreta. No picadeiro, o menino canta a música Eu faço cócegas e faz gestos obscenos – mexe os quadris, os genitais, mostra o dedo médio – para a platéia. É um espetáculo meio triste e constrangedor, mas é assim que Lardi ajuda o orçamento familiar. As apresentações continuam até a chegada do convidado da noite: é a drag queen Sempre Quita, uma celebridade entre as lonas da periferia. O público delira, Chupetinha pula no palco, felicíssimo, e faz uma espécie de performance com a drag, que entoa uma música onde se ouvem palavras como “cadela” ou “vagabunda”.

É o 10º bairro que o Trans-América visita este ano (e Quita, como é chamada pelos fãs, faz sucesso em todos). Além de Rio Doce e Favela do Rato, eles já estiveram em Roda de Fogo e Maranguape 1. Na primeira semana, o ingresso custava R$ 2 para adultos e R$ 1 para crianças. Agora, o preço é único: apenas R$ 1 para ver o incrível engolidor de fogo (de novo Laudionor, que também é pirofagista e cabeleireiro), o palhaço Fuzuê, os equilibristas Rodrigo e Diego. Seu Gerson, pode-se dizer, tem um bocado de sorte: 90% dos seus “empregados” fazem parte de sua família. São filhos do primeiro casamento, genros, noras. Quando o público é pouco, ele vende uns discos, uma caixa de som, tv velha. Dá o apurado a Cida, que compra comida e espera o show do outro dia. (F.M.)


Picadeiro é alternativa para quem quer fugir da fome

O Big Circo Brasil, atualmente rodando em cidades como Ipojuca, Escada e Primavera, abriga dores de diferentes tons. Os empregados são, na maioria, gente que não tinha muita opção e terminou por ali para ter um lugar pra dormir e comer. Entre eles está Eduardo Claudino da Silva, 22, também conhecido como O Incrível Homem do Peito de Aço. O título tem explicação: Eduardo, nascido em Quipapá, interior de Alagoas, há anos sem ver a família, ganha cerca de R$ 20 por semana – às vezes menos – permitindo que uma pedra grande seja quebrada em seu tórax.

“Eles batem com uma marreta, a pedra se divide no meio”, conta ele, entre tímido e orgulhoso por seu número. O peito de carne e osso de Eduardo reclama, mas ele não presta muita atenção. Às vezes dói também na pele, principalmente quando ele entra no picadeiro trazendo a sua Cama Infernal, uma lona dobrada em quatro e forrada com vidro. Ele passa os cacos nos braços, nas pernas, no rosto. A platéia da cidade de Primavera, a 97 quilômetros do Recife, olha sem muito assombro – definitivamente, é tarefa inglória concorrer com o sangue fácil da televisão. Mas Eduardo, transformado em artista que aprendeu a se virar dentro da estrutura precária que é a sua própria vida, tem seus trunfos: ele deita-se sobre os pedaços de garrafas de Rum Montilla quebrados minutos antes atrás da velha lona do Big Circo Brasil e espera que o apresentador Jardiel suba em suas costas. Depois, vira o corpo para cima e uma garota é convidada a também subir no seu corpo. Os cacos de vidro já fizeram o estrago – vê-se sangue em seus braços, costas, rosto. Há sangue também no peito de aço.

O número de integrantes do Big Circo Brasil é, assim como nas outras lonas, bastante flutuante: há pouco menos de dois meses, eram 16. Três artistas saíram quando a estrutura foi desmontada em Escada e seguiu para Primavera. Na mudança, mais duas pessoas se juntaram ao empreendimento de Zenaide Ferreira e Alexandre Jorge, 23, mãe e filho que administram o circo. É uma renovação constante de talentos – entenda-se por isso o talento para cumprir qualquer tarefa do que propriamente um dote artístico. “A maior parte de quem chega não faz nada, quer apenas um canto para dormir. É aqui que eles aprendem alguma coisa”, diz Alexandre, que faz as vezes de apresentador, atirador de facas e palhaço. A mulher dele, Márcia (a Garotinha Mayara), 22, é uma das bailarinas que dançam os sucessos populares ao lado de mais duas meninas. As músicas não se diferenciam do Trans-América e de outros circos circulando no Estado. Amor, paixão e a expressão “toda molhada” são uma constante no picadeiro. “O circo hoje se segura com bailarina e palhaço. Se não tiver piada e mulher bonita, não tem público”, diz Alexandre.

Aos 17 anos, a dançarina Aline Cristina não é exatamente uma mulher voluptuosa. Magrinha, tem rosto e corpo de menina. É novata no Big, que seguiu para acompanhar Sérgio Marcos, 18, contratado para se equilibrar sobre o chamado cilindro japonês e passar fogo no corpo. A função de Aline é “levar a platéia ao delírio”, e, para isso, ela entra no picadeiro usando um biquíni que deixa o bumbum de fora. Sobe e desce ao chão, rebola envergonhadíssima, insinua-se para a platéia. A mãe evangélica não concordou quando a filha, ex-adepta da Bíblia sob o braço, saiu de Ribeirão para se juntar ao equilibrista. Os dois agora vivem em uma barraquinha montada atrás da lona principal. Sustentam-se com R$ 35 por semana. Aline, maquiada de mulher bonita antes de entrar no palco, passa a mão na barriga e sorri. “Acho que estou grávida, minha menstruação está duas semanas atrasada.”

LOUCURA E PURPURINA - A outra novata na lona atende simplesmente pelo nome de Maria. Foi chegando no Big aos poucos, antes da viagem até Primavera. Agora, é uma das novas “artistas”. Ninguém sabe a sua idade, nem a própria. Aparentando pouco mais de 40 anos, Maria é deficiente mental. Já ganhou nome artístico: Paraguaia. Dança no picadeiro repleta de uma maquiagem feita por ela mesma, onde camadas de purpurina dourada enfeitam olhos e bochechas. Sem os dentes da frente, gordinha, ela dança com um vestido curto. Em seu imaginário, Maria, que hoje vive no mesmo barraco de Eduardo Peito de Aço, é uma bailarina. Para o público, no entanto, ela é um bom alvo de piadas e outro motivo para ir até o circo. A intenção é sempre rir e se divertir. Não importa muito bem com o quê. (F.M.)


O mágico Alakazan viu seu circo sumir em um plano de governo

Alakazan está deitado na cama de seu trailer e olha o movimento pela pequena janela. O circo de lona gasta que leva seu nome está armado na Vila Santa Luzia, na Torre, um local extremamente popular incrustado no bairro classe média. De vez em quando, um ou outro garoto chega até ali e lhe pede alguma coisa, baixinho. “Não, hoje não, já lhe dei dinheiro ontem, o que você quer mais?”, diz ele, meio aborrecido. Antes, os meninos ficavam fascinados com os truques do artista. Hoje, nas áreas pobres em que o circo passa, eles não esperam coelhos saindo de cartolas - se o mágico colocar R$ 1 em suas mãos, está feito o extraordinário.
O homem magro, vestindo roupas simples e dono de uma lona que tem como maior tesouro cinco velhos trailers e um Opala de quase 20 anos, já comandou um dos maiores circos do Norte e Nordeste. Wilson Ribeiro da Silva, 58 anos, chegou a empregar setenta pessoas, entre elas coreógrafos, músicos, palhaços, contorcionistas e cozinheiros. Viajava pelo Brasil com equipamentos que eram carregados em duas carretas próprias. Os artistas iam nos quatro ônibus também pertencentes ao mágico. Animais como elefantes, leões e chipanzés eram outros “contratados”. Eram os anos 80 e o Circo Alakazan fazia parte da mítica do “maior show da terra”. Alakazan, já sentado em sua cama e rodeado de caixas com roupas de apresentação e outros apetrechos usados em seus números de mágica, ri meio irônico quando fala dessa época. “O meu circo é o maior do mundo. Ele nunca enche.”

Cerca de 15 pessoas trabalham no local - o número, como já foi dito, nunca é muito certo porque sempre existe alguém chegando ou saindo. Ao contrário de vários de seus pares, que levam a família sob a lona, Alakazan tem apenas um filho - Alakazan Júnior - que trabalha esporadicamente com ele. O rapaz de 26 anos já não se dedica ao equilibrismo. Vive de música. Trocou o arame pelo brega e hoje é o Alakazan dos Teclados.

Há trinta e três anos trabalhando no circo, o mágico e proprietário de lona é sem dúvida um dos nomes mais importantes da arte circense em Pernambuco. Apesar da situação que nem de longe lembra a alegria do Alakazan de anos atrás, quando saía em turnê por Estados como Bahia, Maranhão, Paraíba e até Pará, o artista não pensa em largar o ofício. Vai tentando segurar o show como dá: para não faltar comida, uma das táticas é pedir apoio a comerciantes dos bairros. Caso uma padaria resolva doar pães para os trabalhadores do circo, o nome do estabelecimento é citado nas propagandas diárias, quando o velho Opala circula pelos bairros anunciando as atrações da noite.

Além dos clássicos engolidores de fogo e malabaristas, o anúncio vindo do carro velho chama as grandes atrações: shows de Augusto César, Starboys, Swing no Amor e, de novo, a drag queen Quita. Às vezes, a atração não chega a ser anunciada e é feita à boca miúda. É quando acontecem “números” de strip-tease realizados por Vânia, a mulher de um dos palhaços. Apenas adultos são permitidos nessas ocasiões. “A gente absorve o que está na moda. Eu não gosto, mas o povo gosta”, comenta Alakazan, que não vitimiza a sua condição e assume: sua lona desgastada ainda dá renda. “Mas é preciso pagar bem os artistas e ter bons equipamentos. E para isso é preciso de mais público e de apoio”, fala ele, que viu seu mágico espetáculo começar a ruir nos governos de José Sarney (1985-1989) e Fernando Collor (1990-1992). O último confiscou os Cr$ 22 mil, moeda corrente na época, que Alakazan guardava para manter o circo. “Tive que ir vendendo tudo, atrasei folha de pagamento, os artistas foram embora”. Anos antes, um terrível acidente ocorrido no interior da Bahia já havia contribuído para a decadência da lona, quando um leão matou uma criança, a exemplo do que aconteceria anos depois em Pernambuco, no Circo Vostok. Nunca mais o Alakazan foi o mesmo.

PALHAÇADA E BARRIGA VAZIA - No Gran Londres Circo, comandado por Índia Morena (Margarida Pereira de Alcântara, 63, conhecida nacionalmente entre seus colegas de lona), vive Givanildo Francisco dos Santos, o Palhaço Maletinha, pai de 24 filhos. Oito moram na barraca erguida atrás da lona. Lucas é o mais novo, tem 4 meses, e estava nos braços da irmã Mayara, 5, no dia da primeira visita da reportagem ao local. Os dois, além de outras crianças, brincavam perto da estrutura de uma velha geladeira vazia que cumpria o papel de jaula para uma jibóia, a estrela do show da noite.

Maletinha acaba de ser contratado por Índia, que vai pagá-lo semanalmente, e não apenas os cachês por shows. “Ele é meu melhor artista e entende tudo sobre a armação da lona”, elogia ela, presidente da Associação dos Circenses de Pernambuco. Considerada uma das melhores contorcionistas que o picadeiro pernambucano já viu, ela conseguiu construir uma casa em Muribeca Rua, Jaboatão, mas diz não conseguir passar muito tempo lá. “Meu lugar é aqui na lona.” Faz 53 anos que a sexagenária tem vida mambembe. No trailer em que vive, panelas, comida e roupas de paetês dividem espaço com duas camas. As roupas são o grande orgulho da ex-rumbeira, que, vaidosa, anuncia: “Tenho mais de cinqüenta pares de sapatos”. Presidente da Associação dos Circenses de Pernambuco, ela, desiludida com a classe, reclama: “Os artistas estão se acabando. Hoje, o circo tem só gente morrendo de fome.” Andréa, mulher do Palhaço Maletinha, concorda. “Às vezes, o aperto aqui é muito grande.” (F.M.)

Link

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O que é notícia?

* Rubem Braga, sempre.

Os temas que aparecem com frequência nos meios de comunicação vão moldar as conversas e os pensamentos que circulam na sociedade, vão ditar os modismos, as piadas, as preocupações, as imaginações. E o que é mais preocupante é que esses temas (os mais recorrentes na grande mídia) são quase sempre os mesmos. E estão geralmente associados às fofocas pessoais, entretenimentos apelativos ou tragédias sociais.

Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz:

- Chega! Houve um desastre de trem na França, um acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desgraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenham conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime. "Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso? O jornal nunca publica uma nota assim:

"Anteontem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda, no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos de 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraça-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando com um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão, voltou-se para o seu marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: "Meu amor", ao que ele retorquiu: "Deolinda". Na manhã seguinte, Augusto Ramos foi visto saindo de sua residência às 7,45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a gaiola de um canário-da-terra, de propriedade do casal."

A impressão que a gente tem, lendo os jornais - continuou meu amigo - é que "lar" é um local destinado principalmente à prática de "uxoricídio". E dos bares, nem se fala. Imagine isto:

"Ontem, cerca de 10 horas da noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar "Flor Mineira", à rua Cruzeiro, 534, em companhia de seu colega Pedro Amancio de Araújo, residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se à fartas libações alcoólicas e já se dispunham a deixar o botequim, quando apareceu Joca de tal, de residência ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas, Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto, insistiu seguindo-se uma disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido empregado, que aceitou a nota, que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo acontecendo aos três amigos, que se retiraram do bar alegremente, cantarolando sambas. Reina a maior paz no subúrbio do Encantado, e a noite foi bastante fresca, tendo dona Maria, sogra do comerciário Adalberto Ferreira, residente à rua Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegado a puxar o cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de goiabada."

E meu amigo:

- Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação será chamado de louco. Porque os jornais noticiam tudo, tudo, menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Folha: País quer quem fale bem a língua, diz FHC

* Trecho de matéria sobre o Congresso Nacional do PSDB publicada em 24 de novembro de 2007, na Folha. Assinam Silvio Navarro, Felipe Seligman e Maria Luiza Rabello.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou ontem o Congresso Nacional do PSDB, em Brasília, afirmando que quer "brasileiros melhor educados, e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria."

O ex-presidente cometeu um erro de português. Especialistas consideram que, de acordo com a norma culta da língua, o correto seria ter dito "brasileiros mais bem educados".

Em suas mais duras críticas desde que começou o evento tucano, FHC não mencionou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nem o PT, mas sua fala foi entendida pelos presentes como uma alusão ao presidente petista.

Em um esforço para tentar separar as denúncias do valerioduto tucano do escândalo do mensalão, o PSDB, no último dia do congresso, deixou para FHC desferir a artilharia pesada contra o governo e o PT, a quem o ex-presidente se refere como "elitezinha que se abotoou ao poder".

O tucano citou Lula logo na primeira frase do discurso, mas, no decorrer da fala, passou a ocultar o nome do presidente Lula. Permeou o discurso com frases para rebater as críticas do PT que o partido e seus membros são elitistas.

"Nosso partido tem gente acadêmica, não temos vergonha disso. Tem gente que sabe falar mais de uma língua, e também sabemos muito bem falar a nossa língua. Muitos brasileiros ainda não puderam saber falar bem a nossa língua e muito menos as outras", afirmou FHC para os militantes.

Link

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Juliette Binoche na Playboy francesa

* A Playboy francesa de novembro não traz uma coelhinha qualquer na capa. A atriz Julliete Binoche, 43, é o destaque. Ela posou para a fotógrafa Marianne Rosenstiehl.







Aspas: Imprensa exclui os excluídos, diz Kotscho

"Muito dos meus colegas jornalistas deixam de ir onde o povo está. Fazem as coisas por telefone ou e-mail. O que predomina na imprensa brasileira hoje é o noticiário oficial, de poder e de celebridades. Isso exclui os excluídos. A gente muitas vezes fica falando dos patrões da grande mídia, mas a mudança de postura depende dos profissionais. O Zuenir já deu vários exemplos disso. O repórter tem que ir para a rua."

Ricardo Kotscho, jornalista e escritor no Fórum das Letras de Ouro Preto, em 2 de novembro de 2007

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

NYT: The Very Expensive Reality of Chasing Reality TV

* Você gastaria US$ 8 mil para tentar participar de um reality show? O americano Tom Sullivan gastou e garante que fez um bom investimento. Assim como ele, centenas de outras pessoas em todo o mundo abrem mão de tempo e dinheiro para aparecer na tevê. A repórter Abby Ellin contou a história de algumas delas na edição do New York Times de 4 de novembro de 2007.

TO say Tom Sullivan likes “Survivor” would be a gross understatement. Mr. Sullivan, a radio and television host in Atlanta, auditioned five times for this reality show, which has a $1 million prize. He spent hours shooting, editing and mailing videotapes of himself to producers and casting agents, and has traveled to four cities to compete for the honor of not being voted off the island.

His quest has not just cost him time — it has also cost him money, to the tune of $8,000 over the past five years. And he has never made it onto the show. But Mr. Sullivan, 38, says his efforts have been worth every penny.

“I learned how to deal with producers and I had some great experiences,” he said.

Mr. Sullivan is one of many people who have dropped big money auditioning for reality television shows and contests. The reasons for doing so vary: Some people mainly want to be on television, but for others it is part of a very specific plan to enhance their careers. To them, the money they spend is not so different from, say, investing in a business degree or hiring a career coach.

“You can sit here and be as talented as you want, but unless you get out there and show people, you’re not going to get anywhere,” said Sergio Alain Barrios, 41, a New York-based fashion designer who has auditioned twice for “Project Runway.” On the show, which appears on the Bravo cable channel, 15 contestants receive assignments each week as they compete for a $100,000 prize to start a clothing line, along with other prizes; the show’s new season starts on Nov. 14.

Mr. Barrios’s endeavor cost both time and money — $2,500 in 2004, and about $5,000 in 2005. Aspiring contestants are required to bring in three samples of their work; Mr. Barrios designed 15 pieces and whittled down the selection to 3.

His first try was unsuccessful, but “rather than be disappointed it motivated me to say, ‘I’ll show you,’” said Mr. Barrios, who works occasionally as a stylist and production assistant for Oscar de la Renta fashion shows. He said he did get a word of encouragement from Tim Gunn, one of the show’s on-the-air mentors.

Mr. Barrios devoted all of 2005 to aiming for the show. That meant logging 1,560 (unpaid) hours honing his craft. In addition to buying the materials and paying other expenses, he acquired a large printer ($700, as well as $140 for cartridges and $100 for paper) to better show off his drawings before the judges.

The night before the second audition, he and his boyfriend rented a room in the same hotel where the event was taking place (at $400 for the night), just to ensure that he would be fresh and ready the next morning. They also had a party for friends ($200 for food and liquor) who showed up to offer encouragement.

The next day, he was pumped up and ready to go. But he was not chosen as a contestant.

“I started crying when it was over; I was so glad it was done,” he said. “It takes so much out of you.”

Susan Murray, associate professor in the department of media, culture and communications at New York University and co-editor of “Reality TV: Remaking Television Culture,” said she understood why people would spend large sums to audition for a reality program.

Reality TV offers the promise of something extraordinary, and, she said, “that promise is so alluring.”

“I would imagine people are willing to invest to get closer to it,” she said.

And when it pays off, it pays off big. When Harold Dieterle, now 30, auditioned for “Top Chef” in 2005, he was the sous chef at a downtown Manhattan restaurant. For him, the $2,300 investment (mostly for three professional-quality knives and new kitchen clogs) paid off in spades: he won.

“Winning kind of put my name on a national scale,” he said. It also helped him open his own Manhattan restaurant, Perilla, this year. “People believed in me.”

That is what Caroline von Lintel, 46, an interior designer in Carefree, Ariz., hopes will come out of the $12,000 she spent preparing last month for Architectural Digest’s Open Auditions in Manhattan, where professional and nonprofessional aspiring designers and architects competed to win a photo spread in the magazine. There are no cash prizes, but semifinalists will appear on the Web site, where the public can vote for their favorite work, said Paige Rense, editor in chief of Architectural Digest. More than 400 people signed up for the event in New York, coming from as far away as Australia, Venezuela, Mexico and the Dominican Republic. The next audition is Jan. 29 in Miami, followed by contests in Houston and Los Angeles.

“As a designer, it’s like a dream come true if I end up being a candidate,” said Ms. von Lintel, whose expenses included airfare, food, lodging for three nights and six photographs of interiors she had designed ($1,500 a photo). “If you never work again, you can say, ‘Wow, I went to the top.’ If you win, the magazine is in effect endorsing you.”

And, she said, “the networking that can happen standing on line is invaluable.”

DIANA OBANDO-PRESTOL, a 26-year-old architect, flew in from the Dominican Republic, where she lives, for the contest. She estimates that the trip and preparations cost a total of almost $5,500, including six nights in New York and the cost of head shots of herself for publicity.

“Even if I am not selected, it’s a win-win situation,” she said. “It’s an opportunity to grow as a designer.”

Ms. Obando-Prestol photographed a client’s three-bedroom home for the contest. Mr. Barrios, the fashion designer, says that he plans to audition again for “Project Runway” and that he is not put off by the time and money he has invested. As far as he is concerned, it is all part of his dream to design women’s clothes.

“Nothing is overnight in this world, and I will audition for ‘Project Runway’ again and again,” Mr. Barrios said. “Like Nike says — ‘Just do it!’ It sounds corny, but that has become a sort of mantra for me through this whole audition process.”

Link

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Herald Tribune: Citizens of nowhere

* Os cidadãos de lugar nenhum: reportagem de Seth Mydans sobre o não-reconhecimento da cidadania de tailandeses. Publicado em 1º de abril, no International Herald Tribune. As fotos que ilustram a matéria, de Greg Constantine (exemplo abaixo), estão neste slide show.

MAE AI, Thailand: Hidden in the back corners of the world is a scattered population of millions of nobodies, citizens of nowhere, forgotten or neglected by governments, ignored by census takers.

Many of these stateless people are among the world's poorest; all are the most disenfranchised. Without citizenship, they often have no right to schooling, health care or property ownership. Nor may they vote, or travel outside their countries - even, in some cases, the towns - where they live.

They are stateless for many reasons - migration, refugee flight, racial or ethnic exclusion, the quirks of history - but taken together, these noncitizens, according to one report, "are among the most vulnerable segments of humanity."

Without the rights conferred by citizenship, they have few avenues for redressing abuses, and little access to resources that could help them build better lives. They have few advocates, because human rights groups tend to focus on the types of abuses they suffer - trafficking, exploitation, discrimination - rather than the root of their problems, their statelessness.

In their variety, they share the lack of a basic human need: a place to call home.

About two million of them are in Thailand, mostly members of ethnic minority groups and hill tribes, perhaps the largest stateless population in the world.

Many were born in remote areas along the border with Myanmar, out of touch with the government, and lack documents that could prove that they, or one of their parents, were born in Thailand.

"Everything is affected, all my rights," said Saidaeng Kaewtham, 38, who works as a gardener. "I can't travel, go to the hospital, do business or get an education. You can't choose your job, only labor."

"Why can others do these basic things and I can't?" he asked. "If I had been a citizen I might have finished my education. I might have earned a master's degree already. Some of my friends have master's degrees."

The number of people like Saidaeng is rising today with the shifting populations of a globalized world, experts say. The emergence of new democracies is also a factor, particularly in Africa, where the granting or removal of citizenship is used as a political weapon.

"The very fact that democracy makes people count makes citizenship a more important social and political fact, and that has given an incentive to some political leaders to use citizenship as a tool to disenfranchise opponents," said James Goldston, executive director of the Open Society Justice Initiative.

By the most common count, there are 15 million stateless people in the world, but by its nature, this is a number nobody can know for certain.

"Statelessness is a global phenomenon, but each of the stories is different," said Philippe LeClerc, an expert on the issue with the United Nations High Commissioner for Refugees in Geneva.

The stateless include some 200,000 Urdu-speaking Bihari in scores of refugee settlements in Bangladesh, where they are barred from many government services and subject to harassment and discrimination.

Formerly a prosperous, land-owning community, they were stranded in Bangladesh when it separated from Urdu-speaking Pakistan in 1971. Although Pakistan at first offered refuge to fleeing Bihari, neither nation offers citizenship today to those who stayed behind.

The stateless also include members of the Rohingya, a Muslim ethnic minority from western Myanmar, where they have been stripped of citizenship and denied civil rights and face exploitation, forced labor and religious persecution. More than 100,000 Rohingya have fled in recent decades to Bangladesh, where they live in camps or on the streets.

They also include tens of thousands of Filipino and Indonesian children in the Malaysian state of Sabah, victims of discriminatory laws that, in effect, deny them birth certificates and often separate them from their families.

Repression at home and the demand for cheap labor drew hundreds of thousands of Filipinos and Indonesians to Sabah over the past three decades. There are now 750,000 of them, nearly one-third of the local population, and the authorities are forcing many to leave.

Because their children often lack documentation, an estimated 10,000 to 30,000 have been left behind to fend for themselves.

In Thailand, the government has embarked on an unusual and ambitious program to determine its stateless people's rights to citizenship, checking documents and interviewing witnesses and local elders.

"You have hundreds of nationality decisions taking place every month in these provinces," said LeClerc. "It's going in slow motion, but it demonstrates a consciousness on the part of Thailand that they have to address the issue."

The only documentation Boon Phonma, 43, could offer was a birth date scribbled on a palm leaf by her mother. She said she was turned away by officials who said, "No, you're not Thai."

Like some others without papers, she then presented officials with the results of a DNA test that she said was accepted as proof of her right to Thai citizenship.

"I found out I have a whole big family here, 335 people," said Boon, who now works to help other stateless people. "I am a Thai confirmed, a Thai since birth."

Link

terça-feira, 30 de outubro de 2007

In Search of Stolen Saints

* Matéria sobre o roubo de obras de arte sacras publicada na Times em 25 de outubro de 2007. Assina Andrew Downie.

The São Bento Church is remarkably tranquil for building wedged between Rio's bustling (barulhento) downtown and one of the city's major highways. So tranquil, in fact, that nobody even noticed, recently, when thieves (ladrões) walked into the Baptism Chapel one afternoon, sawed (retiraram) a priceless wooden sculpture off the wall, and waltzed off (saíram) with it.

The piece, a six-inch statue of an icon named Faith, once formed part of the ornate gold-leaf side altars that date from 1690, shortly after work on the church began. "It was priceless," says Dom Paulo Azeredo Coutinho, one of the 45 monks (monges) who live and work in the famous building and monastery. "It was a one-off (peça única)."

The same, unfortunately, cannot be said for its theft (roubo). Although no complete figures (números) are available, police and cultural officials report a large increase in recent years in the pilfering (furtos) of Brazil's religious artifacts and objets d'art. The booty (saque/pilhagem) includes wood and terracotta sculptures, gold and silver candlesticks, thuribles (incensório) and communion silver (pratas de comunhão) — even rare books, maps and engravings (gravuras).

"This year in Rio we have seen five cases of theft (roubo) — four sculptures and one candelabra," said Marcos Monteiro, director general of Inepac, the Rio institute that oversees the state's cultural heritage. "It is getting worse as the market heats up and demands more pieces. There is a market for religious art and it has been growing since the 1940s. Now it is the hot trend."

Monteiro tracks the beginning of the trend to the late 1960s, soon after the Vatican II meeting in Colombia declared the church should focus more on Christ and less on saints and other icons. That ruling led many priests to remove beautiful sculptures of the Virgin Mary and other saints from display. Some were sold, often to raise money for a parish (paróquia), and a whole new market was created.

Brazil is a particularly rich source of religious art, because during the 17th and 18th centuries it was the only art form encouraged by the country's devoutly Catholic rulers. In the states of Bahia and Pernambuco in the northeast, and Minas Gerais and Rio de Janeiro in the south, Portuguese settlers built baroque churches dripping with gold, silver and art. But today, much of that art is gone. "The last time I checked, we had registered 188 works of art stolen — that's since 2000," says Vanessa de Souza, a Brazilian police chief and delegate to Interpol. "We think there are a lot more that haven't been reported to us. Sometimes we see reports of thefts in the newspaper and we haven't been told officially."

Souza says some of the robberies are the work of gangs who traffic the pieces to Europe and beyond. Most, though, are done by small-time crooks (trapaceiros/pessoa desonesta) who fence (repassa) their swag (objetos roubados) to local antique dealers, who then sell them on to private collectors.

Officials believe, however, that many antique dealers have no idea they are trafficking in stolen goods, because there are hundreds of icons legitimately on the market, having been sold legally by churches or private chapels or imported from dealers abroad. In a bid (tentativa) to track (rastrear) the illicit trade, Brazil's legislature recently passed a law obliging all antique dealers to register with authorities by December. It'll take more than that, however, to trace the stolen goods, says Monteiro.

"What we need is a national system to catalogue the country's religious art," he said. "That way, if something is stolen in Rio then it can't be resold in Pernambuco or São Paulo, and if something is stolen in Pernambuco or São Paulo, then it can't be resold here."

The São Bento church has taken its own precautions, hiring seven security guards to patrol the church and grounds, as well as fitting 15 CCTV cameras in and around the premises. These steps have made the monks who wander about in flowing dark brown robes feel safer, and Coutinho is confident it also offers protection to the priceless pieces that hang from every wall and ceiling of the spectacular 300-year-old building.

And Coutinho has a new idea to bolster (apoiar) the deterrent effect (efeito intimidante) of his security measures. Looking up at a little camera discreetly hanging from a whitewashed wall, a mischievous smiles flickers across the face of the serene former architect. "You can't see those cameras," he says. "We should put up a sign saying, 'Smile, You're Being Filmed.' Or even better, 'Smile, God is Watching.'"

Link

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

La pasarela las prefiere blancas

* Eugenia de La Torriente reporta, no El Pais, a discriminação a modelos negras nos desfiles de moda internacionais. Publicado em 21 de outubro de 2007.

Sólo blancas. Las colecciones de la temporada primavera-verano de 2008, presentadas en Nueva York, Londres, Milán y París en septiembre y octubre han disparado la alarma. En 31 de los 101 desfiles listados en style.com, los más relevantes, no había ni una sola mujer negra. Marcas como Balenciaga, Prada, Chloé o Jil Sander, que aspiran a ventas mundiales, pero que parecen ignorar que las mujeres de color gastan más de 20.000 millones de dólares en ropa al año, según Targetmarketresearch.com. La moda siempre ha estado dominada por caucásicas, pero hacía tiempo que no se veía una homogeneidad tan acusada. En una industria global, el mensaje de un desfile totalmente compuesto por adolescentes eslavas no puede ser más local.

"Empecé en los sesenta, pero las cosas están peor que nunca", declaró Bethann Hardison, una de las primeras modelos negras, en una conferencia organizada por ella recientemente en Nueva York. Con el título La ausencia de imagen negra en la moda actual, el evento reunió a Iman, Naomi Campbell o André Leon Talley, editor de Vogue. También las revistas se han visto salpicadas por el debate. En las ediciones de este mes de las principales cabeceras estadounidenses la presencia de afroamericanas es irrisoria. Según el agente David Ralph, a pesar de que esta raza supone el 30% de la población, no está representada por ninguna modelo en Vogue, Harper's Bazaar, Glamour, Cosmopolitan, Allure y Elle.

Cuestión de facciones

Mauricio Carnino es director de casting de Nueva York. Trabaja con Custo Barcelona y Diane von Furstenberg, dos de los pocos diseñadores que han ido más allá de la contratación de una sola y simbólica negra en sus últimos desfiles. "En la conferencia citaron a seis marcas que sí reflejan la diversidad racial en sus desfiles. Tres son clientes míos, lo que demuestra que no tengo problema. Pero hay diseñadores que, si eligen a una chica de color, ya no quieren otra. Ya tenemos una, dicen. Algunos argumentan que tiene que ver con la constitución. Otros ven problema en las facciones. Una vez, uno me pidió una negra. Dijo: 'Necesitamos una blanca metida en una taza de chocolate".

Una de las pocas que ha conseguido entrar en desfiles importantes, como el de Dior, es Chanel Iman. Alguien con ese nombre parece destinado a triunfar en la moda. Aunque ser hija de una coreana y un afroamericano no se lo ha puesto fácil a esta chica de 17 años. Aun así consiguió meterse en el grupo de la portada del Vogue estadounidense de mayo como una de las próximas 10 supermodelos, según prometía la revista. La única que no era blanca.

"Además del americano, el mercado francés es el que más modelos de color utiliza", explica Fernando Merino, booker de la agencia Group, que representa en España a Chanel Iman. "Italia nada de nada y España, muy poco. Sólo para editorial y en algún desfile. Tampoco se quieren hindúes, orientales... Quiero creer que no es una cuestión de racismo, sino de representar a tus consumidores".

"Ahora mismo se ven más orientales que negras. Es cuestión de modas", explica Ramón Carmena, director de la agencia Traffic. Entre las modelos que representa está Godelieve van der Brandt, quien se ha acostumbrado a que su pelo sea el único afro en una sucesión de melenas lacias en los desfiles españoles. Hija de un médico belga y una congoleña, su familia se instaló en Benidorm cuando tenía cinco años. "Me avisaron de que el mercado era reducido. Era consciente de las limitaciones, pero quería vivir mi experiencia. Y, poco a poco, me he ido haciendo un hueco. Es cuestión de confianza y del apoyo de una buena agencia", explica desde París.

La madre de Godelieve está orgullosa de ella. Vive en Bélgica y se escapa a Madrid o Barcelona para verla desfilar. Y sostener, en solitario, la bandera de la diversidad cultural. "Una sola negra o asiática ya cubre el cupo", explica la modelo.

La cuestión no es nueva. Ha habido grandes modelos negras, pero la lista es corta y, a veces, la luz de una estrella esconde una realidad con sombras. Naomi Campbell explicaba en la conferencia de Nueva York que Christy Turlington se había plantado ante Dolce & Gabbana. "Si no contratáis a Naomi, no nos tendréis a nosotras". El nosotras incluía a Linda Evangelista. Para hacerse un hueco en Vogue Paris, su valedor hubo de ser otro: Yves Saint Laurent amenazó con retirar su publicidad si se negaban a trabajar con ella.

El debate sobre qué medidas son aceptables para revertir esta situación está abierto. Hardison ha conseguido su propósito: llamar la atención sobre la anómala representación de la diversidad racial. Godelieve tiene miedo a los cupos nacidos de la polémica. "No quiero que me cojan por obligación. Lo ideal es que se fijaran en tu valía y no en el color de la piel". Tan básico como eso.

Link

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

"La literatura no tiene ninguna función"

* O escritor português José Saramago em entrevista exclusiva à repórter Patricia Kolesnicov (pkolesnicov@clarin.com), do Clarín. Texto publicado na Revista N, em 20 de outubro de 2007.

Desde su refugio en la isla de Lanzarote, muy cerca de una serie de homenajes por sus 85 años y los 25 de su "Memorial del convento", el Premio Nobel portugués respondió, parco, incisivo, a las preguntas de "Ñ" sobre la actualidad y el futuro de la literatura. Jurado del Premio Clarín de Novela, dice que la narrativa no debe escuchar al mercado, que preguntarse sobre la utilidad de la ficción es no entender nada y que esa pregunta sin respuesta se repetirá eternamente: tendrá siempre nuevos "preguntadores".

«Chora, ahora mismo, ahora, ahora, mientras esto se escribe, mientras esta nota está por empezar a ser leída, allá en una isla volcánica, allá en su escritorio de caballetes, allá con su vista africana a un océano Atlántico intenso como un cielo sin luna, el Premio Nobel de Literatura, el escritor comprometido, el tipo serio que es José Saramago, escribe su próxima novela.

Sabemos su título: Se llamará El viaje del Elefante. Sabemos que sobre esa tabla que tiene por escritorio, ordenadas, prolijitas a un lado de su impresora, ya hay unas 50 páginas. Sabemos que la novela está basada en un hecho real, ocurrido en la época de Maximiliano de Austria, que nació en Viena, fue nombrado emperador de México en 1864 y fue fusilado en 1867. Sabemos también que la novela en la que está inmerso Saramago ahora, ahora mismo, está llena de ironía, de sarcasmo y de compasión. Que es una metáfora, dicen buenas fuentes, sobre los pobres diablos que somos los seres humanos. Sabemos que postulará, el autor del conmovedor Ensayo sobre la ceguera, que el destino que nos damos los humanos es estúpido, cuando podríamos alcanzar algo más que el ridículo. Que dirá que es ridículo o patético que nos pasemos la vida corriendo, trabajando, criando hijos, para acabar pobres, además de viejos y de olvidados. No habla de la vejez, nadie se atreva a hacer interpretaciones al vuelo y creer que porque está a punto de cumplir los 85 -el 16 de noviembre- José Saramago escribe sobre la vejez.

El tema de la novela que viene, desliza nuestra buena fuente, es la carrera hacia la nada que, según el punto de vista del escritor, parece llevar la humanidad. Una novela de ideas. Como lo fue Memorial del convento, la gran obra que está cumpliendo los 25 años y que lo tendrá de festejo en festejo en España y en Portugal, a mediados de noviembre. Festejo que reúne la alegría de los 85 del autor, 300 del Convento de Mafra, 350 de Doménico Scarlatti, el músico que es personaje de la novela. A lo grande: habrá un espectáculo que ya se hizo en Finlandia, con música de Scarlatti en la voz de una soprano, algunos pasos de ballet y palabras del Memorial... que dialogarán con un clavicordio. Y luego hablará Saramago. En España la producción tendrá como actor a Juan Echanove. En Portugal, a Jorge Vaz Carvalho. Los demás, finlandeses. Y con eso empezará su trabajo en Lisboa la flamante Fundación José Saramago. ¿Es todo? Para nada: el 17 de noviembre el escritor estará en Mafra, Portugal, para las celebraciones del convento. Y así: una mirada a su agenda de compromisos puede producir taquicardia.

No es fácil darse cuenta cómo lleva ese ritmo el Premio Nobel y además de escribir novelas tiene tiempo para enterarse y ocuparse de lo que considera injusto en el mundo, de asistir a Ferias del Libro, de volver a casarse con su mujer, Pilar del Río -lo hicieron en junio en Castril, el pueblo granadino donde ella nació-, de colaborar con la cineasta chilena Carmen Castillo para el documental Calle Santa Fe, sobre la resistencia en su país. De ir a Guadalajara, México, a leer partes de su novela Las intermitencias de la muerte -lo hizo en diciembre pasado- sobre un escenario, junto a un deslumbrado Gael García Bernal, en un duelo de galanes en el que no estuvo claro quién ganó.

Desde esa ventana al mar, desde Lanzarote, la isla donde vive, que es políticamente España y geográficamente Africa, a pocos días de subir al avión que lo traerá a Buenos Aires como miembro del jurado del Premio Clarín, Saramago responde las preguntas de Ñ sobre qué lo lleva a escribir, sobre la lectura hoy y sobre la literatura que vendrá. No es fácil entrevistarlo, quien lo haga debe saber que es probable quede ligeramente en ridículo. Porque como siempre, Saramago es sencillo, contundente y conmovedor.

-Después del premio Nobel, de tanto reconocimiento... ¿Qué lo mueve a seguir escribiendo? ¿Qué lo hace sentarse frente a la computadora?

-El hecho de haber dejado una página por terminar.

-¿Sigue buscando algo en la literatura? ¿Qué busca?

-Como cualquier otro lector, o escritor, me busco a mí mismo. Busco encontrarme en páginas, en ideas, en reflexiones, reconocer que somos algo más que esto que se presenta como "realidad", ése sigue siendo el mayor deslumbramiento.

¿Sí? ¿Seguimos los humanos encontrándonos en páginas, que no sean páginas web? Saramago hace rato que escribe sus textos en computadora y está lejos el día en que Pilar rescató de la papelera (la real, no la de Windows) la primera página de la última novela que su marido escribió a máquina y corrigió a mano, "Historia del cerco de Lisboa". La sacó del tacho, la alisó (era un bollito como los de las películas), le pidió una dedicatoria. Dice: "'A Pilar, esta página y mi vida'. José. 29 de diciembre del 87". La página fue enmarcada y colgada de la pared. Buen recuerdo, testimonio asegurado y a otra cosa, la escritura se volvió digital. En resumen: El Nobel no está paranoico con el papel que jugará la tecnología en la cultura.

-¿La literatura pierde terreno frente a la informática?

-La literatura no puede ocupar el terreno de la informática y viceversa. Son formas distintas de entender el mundo. La informática puede ser una contribución, no a la literatura, sino a la lectura

-Entonces, ¿se lee de una nueva manera?

-En cualquier caso, la literatura siempre ha sido una actividad minoritaria. Me parece que ahora se lee y se escribe más. Quizá por la informática.

-Si recordamos aquello de que el medio es el mensaje.. ¿cómo afecta este nuevo medio los contenidos de la literatura, es decir, el sentido?

-Es absurdo pensar que lo que un escritor tenga para decir dependa del instrumento que utilice.

Así contesta Saramago -ya avisamos que el entrevistador puede quedar en ridículo- como quien sabe apropiarse de los medios que tiene a mano para esparcir las ideas que tiene claras. Eso: alguna vez el dijo a esta cronista que de chico pensaba en ser "conductor de trenes, maquinista, el hombre que va conduciendo el tren". Y que cuando le preguntaban por qué, decía que era "por el tren, la velocidad, la noche, uhh, uhh". ¿Qué tiene que ver con su presente? Que se pensaba como un conductor. La interpretación, aclaremos, es de él: "Creo que no lo estoy inventando ahora, creo que haber sentido esa responsabilidad", decía entonces. ¿Condicionará la informática esa empresa? No parece. Tampoco lo hará el dominio de los medios audiovisuales. Quien tenga algo que decir encontrará su rumbo. El es terminante:

-¿Lo audiovisual le arrebató el relato a la literatura? ¿La novela perdió la hegemonía sobre las historias?

-No, no y no.

-Es decir que usted no piensa que vamos hacia el fin de la novela...

-Se ha pronosticado muchas veces ese final, y la novela sigue vivita y coleando. Un premio literario para novela suscita el aparecimiento inmediato de 200 o 300 candidatos. ¿Dónde estaban esos libros? ¿Han sido escritos corriendo para cumplir el plazo? ¿O son el resultado de meses y meses de trabajo responsable, respetuoso del idioma?; autores que llevan un mundo dentro y lo quieren confrontar con la realidad que los rodea y limita.

-Un mundo dentro y un mundo fuera. ¿Usted es un "escritor comprometido"? ¿Con qué?

-Estoy comprometido, o sea, vivo, en un mundo que es un desastre. Como escritor y como persona, mi empeño es no separar al escritor de la persona que soy. Me esfuerzo, en la medida de mis posibilidades, en tratar de entender y explicar el mundo.

-Como escritor, su medio de intervención es la literatura. ¿Podemos volver a pensar si sirve para algo? ¿Si la literatura pueda mejorar (o empeorar) la vida, el mundo?

-Llevamos siglos preguntándonos los unos a los otros para qué sirve la literatura y el hecho de que no exista respuesta no desanimará a los futuros preguntadores. No hay respuesta posible. O las hay infinitas: la literatura sirve para entrar en una librería y sentarse en casa, por ejemplo. O para ayudar a pensar. O para nada. ¿Por qué ese sentido utilitario de las cosas? Si hay que buscar el sentido de la música, de la filosofía, de una rosa, es que no estamos entendiendo nada. Un tenedor tiene una función. La literatura no tiene una función. Aunque pueda consolar a una persona. Aunque te pueda hacer reír. Para empeorar la literatura basta con que se deje de respetar el idioma. Por ahí se empieza y por ahí se acaba.

-¿Que se deje de respetar el idioma? ¿Y no que haga depender la literatura del mercado?«r

-Pobre mercado, que le salen moretones por todos lados. Si el libro es una mercancía, hay que venderlo. ¿Dónde lo haremos? ¿En la Luna?

-Claro. Pero ¿no se invierten los términos y se escribe lo que se vende en lugar de vender lo que se escribe?

-Hay que tener cuidado con las ideas hechas. Por ejemplo: que el mercado condiciona al autor. No es cierto. Puede el mercado manifestar una preferencia por ciertos tipos de libros, de "modas", pero eso no obliga a ningún autor a seguir ese camino. Estamos creando una gran confusión: imaginar que los autores son iguales entre sí. Nos ocupamos de tópicos remanidos y no estudiamos la realidad. Y olvidamos demasiadas veces que las preguntas no son inocentes. Me molesta hablar de literatura y mercado. La literatura es la creación y no importa qué montaje se haga en torno a ella. Hay negocios, hay literatura. Y personas que leen para entender y personas que leen porque siguen campañas. Y personas que no leen. Lo importante, me parece, es no dejarnos llevar por estas cuestiones que desde luego a mí, como escritor, me son ajenas.

Así, así como se lo lee, así se lo escucha a José Saramago. Así: hay que tener cuidado con lo que se le pregunta porque está atento, porque está escuchando, porque integra la especie -¿en extinción?- de aquéllos a los que nada de lo humano les es ajeno. En su boca, y en sus oídos, las palabras pesan, no habrá que hablarle jamás con ligereza. No le interesa el mercado, háblenle de literatura, háblenle de política, háblenle del amor y del dolor, pero no del mercado; él es escritor, mercader no.

-Entonces, ¿quiénes siguen para usted el camino posible y deseable para la literatura contemporánea?

-Creo que ningún escritor en su sano juicio osaría contestar a esa pregunta. Yo, hasta ahora, no he perdido el mío todavía. Y creo que cada uno hablará por sí mismo.

Vueltas de la vida, el chico salido de aquel pueblito portugués, el nieto de un campesino analfabeto, es hoy un nombre de referencia entre sus contemporáneos. Sigue recibiendo homenajes: el 23 de noviembre se inaugura una exposición sobre él en la Fundación César Manrique, un lugar espléndido construido dentro de burbujas de lava en Lanzarote. En tres salas recorrerán su vida, su escritura, sus intervenciones cívicas. Reunirán otras obras generadas a partir de las de Saramago en cine, en televisión, en ópera, en pintura. Habrá cincuenta pantallas que pondrán en movimiento lo que está quieto en las vitrinas.

A minutos de ahí estará el hombre, atento a unos lagartos pequeñitos que se escurren por el suelo de su jardín de lava y cactus. A su ventana, bajo la cual corren sus sobrinos. A un amor que late a la vista de todos, constante como un minutero. Al cielo gigante y el mar omnipresente de la isla. A su mundo interior, claro. Estará ahí, sentado al teclado aunque parezca que lo tiene todo. Porque, claro, tiene una página sin terminar.

Link

domingo, 21 de outubro de 2007

The reluctant pin-up

* Perfil do âncora da CNN Anderson Cooper publicado no Guardian em 22 de outubro de 2007. Assina Ed Pilkington.

Anderson Cooper is the pin-up boy of American news casting. Walking around Manhattan, you'd need to have your head buried in your shoes not to notice the giant billboards of him beaming down with his oh-so-charming smile and silvery blue eyes. There are numerous websites for his fans - Anderfans, as they call themselves - including one called Gunmetal Grey after the startling colour of his hair. He has been on the cover of Vanity Fair, made a cameo appearance on Sesame Street alongside those legends of TV journalism, Dan Rathernot and Walter Cranky, and been profiled by a gay magazine that claimed to out him - a claim he has always sidestepped when it has been raised.

At first look, Cooper cuts a rather odd figure as news superstar. He is not one of the exalted group of evening network show hosts, such as CBS's $15m-a-year anchor Katie Couric. Instead, he is tucked away on CNN between 10pm and midnight - a competitive slot, certainly, but not maximum exposure. And then there is the resolutely serious diet he feeds CNN viewers in his show, Anderson Cooper 360°, from famines to hurricanes, domestic poverty to African civil wars.

He insists that he is oblivious to the adulation. "You probably won't believe this," he says when we meet in his CNN office in the glass-and-steel Time Warner building opposite Central Park. "I don't read stuff about myself and if I can help it, I don't look at billboards of myself." When his memoir, Dispatches from the Edge, came out last year, he adds, "I stopped going into bookstores as I thought it would be weird to be seen loitering around my own book."

But beneath the modesty, you might still say Cooper is a man born into greatness. His mother was a Vanderbilt, the family that built the railroads and used its vast wealth to emulate European royalty. He grew up thinking that every small boy's grandparents turned into statues when they died, which explained why his great-great-great grandfather Cornelius was immortalised in Grand Central station. Charlie Chaplin came to tea and Truman Capote was a regular visitor. Andy Warhol's white hair scared the young Anderson - how was he to know he would himself turn Gunmetal Grey?

With so much fame around him, it seemed the natural thing for Anderson to enter that world himself, and he put himself forward as a child model. "I did a lot for Ralph Lauren and Macy's - cheesy newspaper ads, that sort of stuff." But the weird thing is that in the course of our conversation, Cooper seems the antithesis of the man born with a silver spoon in his mouth. He comes across as diffident, almost hesitant, with none of the bombast you'd expect from his Upper East Side roots.

Your amateur psychologist could explain that apparent paradox quite easily. Although his background was one of enormous privilege, it was also one of enormous hurt. His mother, Gloria, was the subject of a highly public custody battle as a child that took her away from her own mother. His father, Wyatt Cooper, a writer from Mississippi, died when Cooper was 10.

Then the brother. In a heartrending passage of his memoir, Cooper relates how his elder brother Carter committed suicide when he was 21. Carter, two years the elder, jumped from the balcony of the family's 14th-storey bedroom in Manhattan, with his mother watching. His final words to her were: "Will I ever feel again?"

Cooper portrays the event in almost unbearably intimate detail. He talks of the guilt he felt then and for years afterwards about not reaching out to his brother when he was clearly depressed. And he describes the experience of seeing Carter's corpse in the casket and noticing a silver screw and bolt sticking out of the head. "I hoped my mom couldn't see it," he writes.

With such tragedy within his family there was only one place to go. The war zone. Aged 24, he just upped and went. In fast succession, he tore around Burma, Bosnia, the famine in Somalia and the Rwandan genocide, filing reports for a news service for schoolkids, Channel One. Wherever there was conflict, he wanted to be there.

Back in the comfort of his office, with stunning views over the park, I suggest that many war reporters appear to display this need to dull their own personal pain by experiencing the pain of others. Cooper disagrees with me. "It's not that you want to witness others' pain, that's the worst part of the job. It's more like speaking a language, and you look for other people who can speak it too. I found it difficult at the time to be in New York, where people don't talk about life and death in casual conversation. I was uneasy at cocktail parties among people making small talk.

"I would much prefer to be in a place where people were dealing with life-and-death issues; cut out all the bullshit, all the rubbish, and reveal things as they really are. Places of extreme conflict felt comforting - no, not comforting, but known to me."

Running around the world for Channel One, he perfected a way of telling affecting human stories, and later brought it to a wider audience through CNN. The technique was put to powerful use in 2005, when Cooper spent weeks in the thick of Katrina, broadcasting searing accounts of the local and federal authorities' failure to help New Orleans. To his bemusement, he became known as the reporter who captured the emotion of the disaster, and he was catapulted into TV superstardom. "The irony is I'm the least emotive person I know. I was raised a Wasp, very tightly wound, and I don't express much emotion at all. I try not to insert myself into the story in a way that many do and always seems to me to be phony."

His latest venture is a four-hour investigation of the global environmental crisis, Planet in Peril. With CNN colleagues Jeff Corwin and Sanjay Gupta, Cooper does his usual act of running around the globe, going undercover in an illegal animal market in Bangkok, hunting poachers in Cambodia, and travelling to Greenland to see Warming Island, a newly created landmass as a result of melting ice caps. After all this globe trotting, of course, he has to return to New York to sit behind his studio desk and broadcast to the nation. He can't keep running forever, I say. "Sadly, that's true," he replies.

I ask him how he copes, after struggling through the Amazonian forest, with re-entry to the domestic American media world of celebrity gossip and political soundbites - the cocktail party small-talk that drove him out of New York in the first place.

"I find I'm spending fewer and fewer of those days of small-talk," he says. "You have to resist the rating system. If you start to do your broadcast based on what you think people want to see, then you end up with nothing but OJ Simpson or Anna Nicole Smith or whatever the tawdry subject is. The easiest thing in the world would be to do Anna Nicole Smith stories, but I don't think CNN viewers want that."

Such resistance to commercial pressures has its costs: his ratings are below his Fox News competitor, Greta Van Susteren, with her preponderance of crime stories, though he has closed the gap among viewers in the 18-34 age group. As his star has risen, there have been other costs on the private side. He has to deal with "four or five" stalkers, he says, as well as persistent gossip about his private life. He was recently profiled in the gay magazine Out as one of the 50 most influential gay and lesbian Americans.

Would he like to say anything about that? "I don't think it's my job to talk about my private life," he says.

But hang on. His book is the most intimate portrait of family tragedy that I have read for a long time, I say. I might have added that someone who writes about the screw in his dead brother's head is hardly protecting his private life. "All those things - my brother's suicide, my father's death - were in the public domain. To me, I wasn't writing a tell-all narrative about my life; it was a book about loss, war, disasters and survival."

A more plausible defence, perhaps, would have been that as a journalist who respects the privacy of others, he has the right to retain some of his own. Put that another way: let's give Anderson Cooper the Anderson Cooper treatment. What matters most - the lurid speculation about his private life beloved of his growing army of Anderfans, or that this is one reporter who, against the odds, continues to strive for significance within the arid world of American television news.

Link

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Consumo na China enriquece marcas internacionais

* Matéria publicada na Folha de S. Paulo (Mundo) em 18 de outubro de 2007. Assina Cláudia Trevisan, enviada especial a Pequim.

A julgar pelo discurso do presidente Hu Jintao na abertura do 17º Congresso do Partido Comunista, na segunda-feira, a construção do "socialismo com características chinesas" depende do mais capitalista de todos os hábitos: o consumo. Os chineses desembolsam parcelas cada vez maiores de sua renda nos shoppings que se multiplicam nas grandes cidades.

O "desenvolvimento científico" defendido por Hu pressupõe o aumento do peso do consumo interno no crescimento, dependente de investimentos e das exportações. O objetivo está longe de ser alcançado, mas é crescente o número de chineses dispostos a gastar somas consideráveis em imóveis, cosméticos, roupas, carros, computadores, celulares e relógios.

O fenômeno se concentra nos centros urbanos da costa leste. Beneficiados pelo crescimento anual de dois dígitos, os novos-ricos abrem o bolso e cultivam hábitos até há pouco estranhos à cultura chinesa.

Concebido pelo designer francês Philippe Starck, o restaurante e bar Lan, na principal avenida de Pequim, é uma extravagância de vários ambientes decorados com quadros no teto, poltronas de espaldar alto, lustres de cristal e cabeças de rinocerontes. No Lan, os chineses endinheirados tomam vinho, fumam charuto, escutam jazz e pagam contas que rondam os US$ 100, o equivalente a 740 yuans-mais do que o salário mensal dos migrantes rurais que trabalham nas construções da cidade.

No The Place, um dos shoppings recém-inaugurados de Pequim, a chinesa Hu Rong, 40, gastou 800 yuans na tarde de quarta-feira na compra de roupas na rede espanhola Zara. Depois, foi a uma das 230 lojas Starbucks espalhadas em 22 cidades chinesas, onde uma xícara de café custa 18 yuans (R$ 4,4) -preço de uma refeição em um restaurante popular.

Hu Rong dirige uma empresa de arquitetura, é casada com um empresário e tem uma filha de um ano e sete meses. A família mora em uma das vilas de luxo que se multiplicam em Pequim e tem na garagem um BMW e um Land Rover.

Além de bens de consumo, é capaz de comprar o direito de ter outro filho, em um país que impõe um estrito controle de natalidade. Hu está grávida e diz que pagará ao governo a multa cobrada das famílias que desrespeitam a política de filho único -neste ano, um casal foi obrigado a pagar US$ 77 mil por ter um segundo filho.

Apesar de muitos shoppings de Pequim serem ocupados por grifes de luxo, são as marcas de preços mais acessíveis, como Zara, que realmente fazem sucesso. A única loja da rede, aberta neste ano, parecia estar promovendo uma grande liquidação no domingo, com filas nos provadores e nos caixas.

"Eu não ligo muito para grifes, mas gosto de produtos de qualidade", afirma Zheng Hua, 30, que acabava de comprar uma blusa por 400 yuans. Dona de uma fábrica de alimentos, Zheng é divorciada e vive em um apartamento próprio de 400 metros quadrados.

As amigas Shi Jing, 30, e Yu Li Sha, 27, gastam em média de 2.000 yuans a 4.000 yuans (R$ 490 a R$ 970) em roupas e cosméticos por mês. Saem para jantar fora a cada dois ou três dias. "O nosso conceito de consumo mudou e passou a ser influenciado pelo Ocidente. Estamos muito mais preocupadas com a aparência", diz Shi, que trabalha no setor imobiliário.

A rede sueca de móveis Ikea é outra marca de preços acessíveis que encontrou seu caminho na China. Pequim é a sede de sua maior loja fora da Suécia, com 43 mil m2 e estacionamento para 1.200 carros.

Os supermercados Wal-Mart e Carrefour se espalham pelas zonas urbanas. A rede norte-americana se instalou na China em 1996 e hoje tem 86 lojas, nas quais diz atender 5 milhões de consumidores por semana. O concorrente francês chegou em 1995 e já possui 345 filiais.

Setor imobiliário é superaquecido; família junta as economias para imóvel do filho

Quando saiu da universidade em 2004, Chen Ou trabalhou em dois projetos que lhe renderam 20 mil yuans em cinco meses, cerca de R$ 4.900. Com a ajuda dos pais, que lhe deram 30 mil yuans, e um financiamento de 190 mil yuans, ele se tornou proprietário de um apartamento de 50 m2 com apenas 22 anos.

Hoje, Chen trabalha como assistente de um jornalista estrangeiro em Pequim e paga a cada mês 1.200 yuans ao banco, que lhe concedeu um empréstimo por prazo de 25 anos. É menos do que pagaria no aluguel de um imóvel semelhante.

Com os juros, sua dívida é de 370 mil yuans, mas o apartamento que custava 240 mil yuans em 2004 duplicou de valor desde então.

O mercado imobiliário é um dos mais aquecidos da China e ter casa própria é a prioridade dos jovens com educação superior, especialmente dos homens. Sem isso, é remota a chance de se casarem com a mulher de seus sonhos. Quando buscam pretendentes, as jovens urbanas chinesas querem alguém que tenha casa própria e um emprego estável.

Segundo Chen, essa foi a principal razão pela qual seus pais decidiram dar suas economias de toda a vida para ajudar na compra de seu apartamento. Antes de mudar para sua nova casa, Chen vivia com os pais em um apartamento de um cômodo de 23 m2, em um edifício com banheiro e cozinha comunitários. "Seria muito difícil conseguir uma namorada nessas condições", afirma.

É surpreendente o alto percentual de chineses que possuem casa própria. O governo afirma que são 80% das famílias urbanas, um índice superior aos cerca de 70% que se observam nos EUA.

Arthur Kroeber, diretor da consultoria Dragonomis, diz que o percentual é inflado por incluir imóveis que foram comprados por empregados de suas antigas unidades de trabalho e que não podem ser vendidos. Portanto, não se enquadrariam exatamente no conceito de propriedade privada.

Ainda assim, ele acredita que o índice de casas próprias nas regiões urbanas da China é alto e não está muito distante dos 70% dos norte-americanos.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Bjork na Dazed & Confused de outubro

* Bjork posa com criações do estilista alemão Bernhard Willhelm para as fotógrafas Carmen Freudenthal e Elle Verhagen. O ensaio está publicado na edição de outubro de 2007 da Dazed & Confused.




domingo, 19 de agosto de 2007

Madeleine: más que un crimen

* Reportagem do jornal espanhol El Pais de 19 de agosto de 2007 destrincha o "circo midiático" erguido após o desaparecimento da menina Madeleine em Portugal. O texto é assinado por Lola Galán e María R. Sahuquillo.

El ruido de la carretera no llega hasta la casa de los McCann, un chalé de dos plantas de aspecto encantador. Una de esas casitas con estilo, destinadas a las clases medias pudientes que se han ido instalando en Rothley, un lugar bucólico del condado de Leicester, en el centro de Inglaterra. Contemplando la casita de cuento, el césped jugoso, gracias a la lluvia inmisericorde, la silueta de muñecos de peluche que se aprecia a través de los cristales emplomados de una de las ventanas de la planta baja, es posible imaginar la que ha sido hasta hace menos de cuatro meses la vida feliz de Kate y Gerry McCann. Un matrimonio normal de clase media; dos profesionales de la medicina con sueldos altos, en el caso de él, cardiólogo en uno de los tres hospitales universitarios de Leicester. Católicos practicantes los dos, 38 años él, 37 ella, casados desde 1998. Amigos de sus amigos, buenos profesionales, entregados totalmente a los hijos engendrados costosamente después de años de tratamientos médicos, gracias a la fertilización in vitro. Los niños trajeron felicidad y mucho trabajo, sobre todo a Kate, que optó por reducir su jornada laboral y ahora sólo pasa consulta en el ambulatorio de Melton Mowbray, la capital rural de la zona, dos días a la semana.

Es posible imaginar la rutina de su vida diaria, las idas y venidas de Gerry al hospital de Glenfield, la ajetreada hora del baño de los pequeños, las cenas esporádicas con los amigos. Quizá en una de esas reuniones planificaron las vacaciones de Praia da Luz, uno de los enclaves más populares de los turistas ingleses en el Algarve portugués. Un sitio especialmente agradable en temporada baja. Una pareja amiga lo había probado ya y quedó encantada. Así es que movilizaron a los demás; en total, tres matrimonios y ocho niños que el pasado 28 de abril ocuparon sus respectivos apartamentos. Desde el principio se sintieron cómodos, rodeados de compatriotas, que abarrotan este pequeño pueblo de la costa portuguesa en el que el 80% de la población residente es británica. Todos buscando lo mismo: sol, mar y una combinación de chiringuitos playeros en los que es posible ver en pantalla gigante los partidos de la liga inglesa de fútbol.

Los McCann se alojaron con sus amigos en el Ocean Club, una urbanización pequeña, integrada por varios edificios de dos o tres plantas, pegados los unos a los otros, ordenados a lo largo de unas pocas calles, con una amplia piscina como punto neurálgico, y el mar a diez minutos de paseo a pie. Un lugar de fácil acceso, incluso para los no residentes. ¿Qué necesidad había de mayor protección en un universo tan plácido? Al menos, hasta el 3 de mayo pasado. La noche de ese día, Kate y Gerry recibieron un zarpazo: Madeleine, su niña mayor, de apenas cuatro años, desapareció de la habitación donde dormía con sus hermanos gemelos Sean y Amelie. Los tres estaban solos. Y ahí estalló el primer escándalo. ¿Era normal que unos padres juiciosos abandonaran a sus pequeños dos o tres horas para cenar en el bar de la urbanización, a 50 metros de su casa? "Se confiaron totalmente. Es un sitio tranquilo, y se ve que bajaron la guardia. Es algo que podría pasarle a cualquiera", dice una compañera de trabajo de Kate que habla maravillas de ella.

Lo que ocurrió en el cuarto que la niña compartía con los bebés nadie lo sabe. Lo que pasara no fue lo bastante ruidoso como para despertar a los gemelos. Sean y Amelie continuaron durmiendo, incluso cuando su madre comenzó a gritar enloquecida, al comprobar que la niña faltaba. Ese sueño pesado de los gemelos ha llevado a la policía a preguntarse si los tres niños habían recibido algún sedante. Un extremo que los padres niegan indignados.

Esa noche, los McCann intentaron encontrar a la pequeña en la urbanización. Nada. Kate McCann aseguró después a la policía que la niña no era de las que salen solas. Dieron la voz de alarma, y la policía se hizo cargo del caso, desplegando 200 agentes por la zona. Más tarde llegó el equipo de perros especialistas de la Guardia Nacional Republicana, que estuvieron rastreando la zona hasta el 18 de mayo.

A partir de esa fecha, la operación crece en volumen y publicidad. Más de mil policías y más de cien voluntarios; barcos, helicópteros, la Interpol, la policía británica y especialistas británicos en secuestros se dan cita en Praia da Luz. Rastrean unos 15 kilómetros. Además, vigilan las fronteras. La noche de la desaparición de Madeleine, el apartamento de los McCann es precintado, y la familia se traslada a otra vivienda dentro del Ocean Club. Aunque los sellos se levantan a las cinco semanas y el piso es ocupado por otros turistas. Los McCann se instalan en un tercer domicilio, más lujoso, en la urbanización Luz Parque.

Presionada por la repercusión -han llegado a coincidir más de 200 periodistas-, la policía portuguesa realiza "un despliegue sin precedentes", según Olegario da Sousa, inspector jefe de la Policía Judicial.

Se alerta también a la policía española. La frontera está a apenas dos horas de Praia da Luz y en un pueblo costero es fácil huir por barco. Esos primeros días, los McCann critican a la policía portuguesa porque las fronteras no se cerraron con la debida celeridad. Esta inicial desconfianza hacia la investigación portuguesa espoleó a los padres de Madeleine.

En lugar de retirarse a un segundo plano para llorar su desgracia, los McCann, especialmente Gerry, convocan ruedas de prensa y se muestran abatidos, pero enteros. Dispuestos a organizarse para resistir en Praia da Luz el tiempo necesario hasta que la niña sea localizada. Con sorprendente pragmatismo, y con ayuda de la familia y de algunos amigos, como Douglas Skehan, jefe de Gerry McCann en el departamento de cardiología del hospital, ponen en pie un fondo para recoger dinero que financie su estancia en Portugal, sus viajes a varias capitales europeas, su audiencia con el Papa en Roma, su visita a Marruecos siguiendo una pista que resultó ser falsa, y a Estados Unidos, donde McCann consigue entrevistarse con altos cargos de la Administración de Bush.

Gerry y Kate estaban en un país extranjero, se veían perdidos y no se sentían capaces de lidiar con los periodistas que cada día llamaban a su puerta. Pidieron consejo a los embajadores británicos en Portugal y éstos les recomendaron contratar a un asesor de prensa. Fueron finalmente sus familias quienes ficharon a Sheree Dodd, funcionaria del Ministerio de Asuntos Exteriores británico. Fue ella quien comenzó la campaña que daría la vuelta al mundo y la que llevó a los padres de Madeleine en una gira para encontrar a su hija. Dos semanas la sustituiría Clarence Mitchell, antigua periodista política de la BBC y que ahora asesora al primer ministro, Gordon Brown. A Clarence le sucedería Justin McGuiness.

Gracias a estos asesores, personalidades como David Beckham, Cristiano Ronaldo y la escritora J. K. Rowling han participado en la campaña. El Papa o el propio Gordon Brown, marcado por una tragedia personal en la que perdió a una hija, se han interesado por la suerte de la pequeña. Un gran despliegue que incluye que los jugadores del Sunderland y del Tottenham saltasen al terreno de juego con camisetas alusivas a esta campaña. La autora de la saga de Harry Potter dedica en su web un apartado para encontrar a la niña. Y numerosas personalidades han llevado la pulsera amarilla con la leyenda Look at me para llamar la atención sobre el caso.

Gracias a todo este trabajo, la campaña de los McCann ha llegado a todo el mundo. Hoy se pueden ver en la Red más de 200 vídeos vinculados con la campaña. Más de 50 millones de personas visitaron el sitio findmadeleine.com en sus primeras 48 horas de existencia. Y otros tantos han visitado el canal de You Tube Dont forget about me, dedicado a Madeleine y a otros niños desaparecidos.

"Gerry escuchó que en Estados Unidos uno de cada seis casos de niños desaparecidos consigue resolverse gracias a las campañas de carteles y de llamada de atención. Fue eso lo que llevó al matrimonio a iniciar esta gran campaña", explica una portavoz de la familia.

Miles de personas contribuyen a engrosar ese fondo que lleva recaudado hasta el momento casi un millón de libras (1,5 millones de euros), un cómodo colchón sobre el que sustentar la campaña de búsqueda de Madeleine, el mayor despliegue mediático global que se ha visto hasta la fecha. Para mantener vivo el caso, se organizan actos en las cuatro esquinas del planeta, de Portugal a Nigeria, del Reino Unido a Afganistán. Se imprimen decenas de miles de fotografías de la pequeña para ser distribuidas en comercios, aeropuertos, gasolineras y estaciones. El único escollo insalvable son las grandes salas de cine en Inglaterra. Las tres principales cadenas se niegan a pasar un cortometraje sobre el caso Madeleine antes de la proyección de las películas destinadas a los menores.

Se diseña un logotipo especial utilizando el insólito derrame del iris que tiene la pequeña en su ojo derecho. Se inaugura un sitio en la web donde se centralizan todas las noticias e iniciativas de la campaña, y donde Gerry McCann mantiene un blog con sus impresiones cotidianas sobre la marcha de las pesquisas y comunica su estado de ánimo y el de su esposa. Más tarde inaugura un sitio en YouTube donde se cuelgan entrevistas y comparecencias de la pareja.

Crear ONG, fundaciones y asociaciones de cualquier cosa es una vieja tradición inglesa. Los McCann no son una excepción. En este caso, y dada la gravedad de la situación, recurren a amigos, familiares y colegas para buscar las personas idóneas que puedan llevar las riendas de una iniciativa tan ambiciosa: conseguir que se hable continuamente del caso Madeleine, que los medios, la gente de a pie no se olviden de la pequeña. Entre las personalidades que les sirven de enlace con el mundo del deporte, de los negocios o de la política figura Esther McVey, nacida en Liverpool como la propia Kate McCann, antigua presentadora de televisión, mujer de negocios y aspirante a política, que se presentó a las elecciones generales de 2005 en las filas del Partido Conservador. También posee una agenda importante Justine McGuinness, miembro del Partido Liberal-Demócrata, con su propio blog en las páginas de The Guardian, que dirige la campaña por expreso deseo de Gerry McCann. Es fácil suponer que la fe católica de ambas familias (la de Gerry McCann y la de su esposa, de soltera Kate Haley) les haya allanado el camino al Vaticano.

Empresarios no menos estelares, como Richard Branson, patrón de Virgin; la escritora J. K. Rowling, autora de los libros de Harry Potter, o el dueño de la tienda Top Shop ofrecen, por propia iniciativa, animados por las dimensiones de la operación mediática, hasta 2,5 millones de libras de recompensa a cualquiera capaz de ofrecer una pista sobre el paradero de la pequeña.

También aquí, en Rothley, la gente se ha portado maravillosamente", explica Janet Kennedy, tía materna de Kate McCann, que vive desde hace tiempo en este pueblecito. "Cuando se cumplieron los 100 días del secuestro, se organizó una misa y la gente llenó la plaza principal de muñecos de peluche y de notas cariñosas sobre Madeleine", dice.

La discreción se ha impuesto en Cross Green, la plaza principal del pueblo, donde se alza el monumento a las víctimas de las dos guerras mundiales. "Tuvimos que retirarlo todo, pero la gente ha lavado los muñecos y van a ser enviados a los niños de Bielorrusia", añade Janet. Ahora, el recuerdo de Madeleine se limita a unas discretas cintas amarillas y verdes, anudadas al tronco de los castaños de la plaza. Pero la gente del pueblo parece todavía consternada. Keith Tomlinson, párroco del pueblo, asegura, en una breve conversación telefónica: "Claro que les conozco, he bautizado a la niña y a los gemelos. Vienen a la misa dominical", responde a toda prisa.

Su colega anglicano, Rob Gladston, se muestra más comunicativo. Recibe en su casa, más bien modesta, a la periodista, para explicarle los esfuerzos conjuntos de las cuatro iglesias cristianas de Rothley en apoyo de los McCann. "Es cierto que no son gente del pueblo. Aquí llevaban sólo 11 meses, y todavía los niños no iban a la escuela local. Por eso la mayoría sólo les conoce de vista".

Para llegar al domicilio de Gladston hay que atravesar prados y cruzar un riachuelo. Todo es pulcro, ordenado, suave. Pero bajo la suavidad de las formas y la dulzura del paisaje se aprecia el esqueleto rígido que modela la sociedad británica. Muchos de los vecinos de los McCann, que comparten su dolor, no dudaron en inundar la web del diario local, Leicester Mercury, con comentarios insultantes hacia la pareja, acusándoles de abandonar a sus hijos. Fue una avalancha tal, que el diario optó por censurarlos en masa, y ahora criba todo lo que llega por correo antes de colgarlo en la web. Y hubo hasta algún compatriota que llegó a enviar a Downing Street, la sede del primer ministro, un mensaje reclamando que se les procesase.

Kate y Gerry McCann respondieron a las críticas admitiendo sus culpas. "Pero esos comentarios son muy dolorosos y ayudan bien poco", protestó ella. No han sido las únicas que han recibido en estos tres meses y medio de agonía. Su conducta hiperactiva, sus viajes al extranjero para dar publicidad al caso, su omnipresencia en la televisión y en los periódicos han causado estupor a mucha gente. ¿Es compatible el dolor extremo de la desaparición de un hijo con el inevitable circo mediático que les ha rodeado en cada una de sus apariciones públicas? "Es su manera de afrontar una situación límite", explica la compañera de trabajo de Kate. "Otra alternativa es cruzarse de brazos mientras la policía investiga. Pero Gerry es una persona activa, muy organizada; es fácil comprenderles". Además, todo apunta a que hace tiempo que la relación de los McCann y los investigadores portugueses se ha deteriorado. Sólo hay que leer las notas venenosas que dedican a los policías lusos los enviados especiales de los tabloides ingleses. Hasta el punto de que se ha ido creando una suerte de rivalidad nacional que ha tenido inesperadas consecuencias positivas para los McCann. Desde que la prensa y la policía portuguesa han empezado a cuestionar su actitud o su coartada, los medios británicos se han unido en una defensa sin fisuras de sus compatriotas.

Todos han cerrado filas en apoyo de los padres, que contaban ya con una tupida red de solidaridad. Decenas de voluntarios de todo el mundo, especialmente en Escocia, Leicester, Irlanda y Liverpool, y varios asesores de prensa, que les orientan y asisten en sus contactos con los medios de comunicación. "El caso Madeleine ha despertado tanta atención que no damos abasto", explica la responsable del equipo, ocupada últimamente en desmentir algunas informaciones de la prensa portuguesa. Por ejemplo, el alquiler por su nueva residencia, que asciende a 5.000 euros al mes, según rotativos locales. "Los McCann viven modestamente. Hacen ellos la compra, la colada... se ocupan ellos mismos de sus hijos", dice la portavoz. "Es una familia muy tranquila, muy normal. Vienen de clases trabajadoras. Han luchado muy duro para llegar a ser médicos, para llegar a donde están", añade. Aunque es cierto que es mucho el dinero gastado hasta el momento. "Una campaña como ésta es muy cara; el despliegue que se ha hecho es enorme", asegura la misma persona. Del dinero recaudado se han gastado ya unos 100.000 euros.

La espera ha resultado más larga y penosa de lo que suponían. Las distintas líneas de investigación se han ido desvaneciendo. Sólo permanece como sospechoso un británico, Robert Murat, de 33 años, que vive con su madre, Jennifer, de 71, en un chalé de Praia da Luz, muy cerca de donde Madeleine desapareció. Se le interrogó varias veces, se registró su casa y quedó libre. Aún se desconoce por qué es sospechoso. Lo demás han sido falsas alarmas o intentos de extorsión a los McCann, como el de una pareja detenida por la policía española hace algo más de un mes cerca de Algeciras.

El caso tiene aún muchos cabos sueltos. Después de tres meses y medio manteniendo la hipótesis del secuestro, la policía ha cambiado de rumbo. "Al no obtener resultados, decidimos reorientar la investigación", explica el inspector Olegario de Sousa. Por eso, hace unos días se volvió a examinar el apartamento de los McCann, esta vez con dos perros especialistas ingleses, una pareja de english springer spaniel, macho y hembra, entrenados para detectar el rastro de cadáveres e incluso de huesos humanos. Los canes detectan vestigios de sangre invisible para el ojo humano que sólo queda en evidencia con el uso de rayos ultravioletas. La investigación da un vuelco y la sangre es llevada a un laboratorio de Birmingham para analizar el ADN. Pero la fiabilidad de la prueba no es muy alta. Estos animales pueden detectar la presencia de sangre derramada hasta siete años atrás. Un tiempo en el que los apartamentos del Ocean Club han visto entrar y salir miles de turistas. El jueves, todo apuntaba a que la sangre no pertenece a la pequeña Madeleine. Y ese mismo día se detecta el primer desfallecimiento en la estrategia de resistencia de los McCann. Por primera vez en más de 100 días de espera, reconocen que empiezan a contemplar la posibilidad de regresar a casa con sus gemelos y con las manos vacías. "Es terrible pensar que salimos siendo una familia de cinco personas y regresaremos cuatro", comentaba Kate.

Para ella y para su marido será difícil recuperar la antigua rutina, el jogging, las tareas domésticas, el trabajo. "Aquí encontrarán todo el apoyo del mundo", dice Ruth, una vecina de Rothley que forma parte del comité de apoyo de las iglesias cristianas, en el que se incluyen también los que en su día les criticaron ásperamente por dejar a los niños solos. La guerra mediática luso-británica les ha rehabilitado totalmente.

Entre la curiosidad y la solidaridad

El apartamento del Ocean Club donde desapareció la pequeña Madeleine se ha convertido en uno de los lugares más turísticos del Algarve. Día tras día, una romería de curiosos se acerca al lugar para hacerse fotos y preguntar a los periodistas las últimas novedades de este caso que ha dado la vuelta al mundo. "Hemos venido por curiosidad, para ver el sitio donde ocurrió todo. También para ver si es tan fácil el acceso a la casa", explica Elsa Morao junto a la verja que daba acceso a la casa que ocupaban los McCann y de donde desapareció la niña. "Hemos aprovechado que veníamos a ver a unos familiares a 80 kilómetros para visitar Praia da Luz", cuenta Carlos, su marido. "Además, la niña quería venir", dice Elsa mientras señala a Laura, su hija de ocho años, que mira con ojos curiosos el despliegue de periodistas montado a las puertas del complejo de apartamentos. El caso Madeleine ha llegado a congregar en Praia da Luz a más de 200 medios de comunicación a la espera de conocer la suerte de la niña.

El viaje de Elsa y su familia no es extraño. Margarida y Tiago viven en París y han viajado desde Tavira (a unos 140 kilómetros) para ver el lugar donde habitaban los McCann y de donde desapareció la niña. "Veíamos el sitio en la televisión internacional portuguesa y queríamos conocerlo, verlo con nuestros propios ojos", dice Margarida.

Todo en Praia da Luz recuerda a Madeleine. El pueblo está empapelado con carteles con su fotografía; cada tienda, cada bar, restaurante o supermercado muestra la foto de la pequeña de cuatro años. "Querida Madeleine. Espero que estés bien. Te echamos de menos", escribe una jovencita griega en una tarjeta que alguien ha colgado en la puerta de la iglesia de Praia da Luz. Al lado, un dibujo muestra a una niña rubia sonriente: "Madeleine, te queremos", se puede leer.

Los visitantes también elaboran teorías sobre qué le ha podido suceder a la pequeña. "Yo creo que los padres son inocentes. Seguro que alguien se llevó a la niña", sostiene Laura Pinto, mientras que su amiga María opina lo contrario: "Fue alguien de la familia, pero no va a llegar a saberse nunca. Si no se descubrió al principio, menos se sabrá tres meses después".

Cada uno saca sus propias conclusiones, pero todos parecen coincidir en un punto: ellos no habrían dejado a sus hijos solos para ir a cenar. "Yo no los dejo solos ni para comprar debajo de casa", critica una mujer portuguesa que veranea desde hace 12 años en Praia da Luz.

Link